Meu sonho com Dercy!

Três oportunidades eu tive, em minha vida de sessenta anos, de encontrar cara a cara com a centenária Dercy Gonçalves - Dolores Costa Gonçalves -, essa jovem senhora natural da pequena, mas ilustre cidade de Santa Maria Madalena, no calmo interior do Rio de Janeiro, que no ano de 1907 ao se preparar para os festejos do dia de São João não poderia imaginar que ali estava nascendo uma filha fogueteira, intelectual sem ter sido acadêmica, capaz de pular fogueiras e explodir como uma bomba quando necessário.

Em recente entrevista, há nove meses passados, ainda em 2006, alguns pensavam que ela havia caducado quanto afirmou que já completara cem anos. Mas explicou: “Quando meu coraçãozinho começou bater lá dentro do útero de minha mão, eu já eu já tinha vida, eu já havia nascido”. Que surpresa para todos pelo tão belo raciocínio desta mulher de cem anos, que pelo sim pelo não parece ter sido auxiliada pelos palavrões bem colocados que lhe fizeram bem menos rugas que se azedasse com eles no seu interior.

A primeira vez que estive pessoalmente com Dercy foi na oportunidade de ter ido assistir a uma comédia apresentada nos anos sessenta, no Teatro João caetano, no Rio de Janeiro, cujo o título não mais me lembro, mas em que a atriz, contracenava com outros fabuloso ator de comédias, o Oscarito - Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Dias -, este falecido em 04 de agosto de 1970, e que narrava a história de uma viúva que “dava duro”, e como dava, para manter os estudos da filha, até que aparece mais um em sua vida. Eu, com pouco mais de 20 anos ria, ria e ria que sai com as cuecas borrada! Falei com Dercy rapidamente, um peidinho de conversa!

Depois, em mil novecentos e sessenta e seis, quando ela apresentava um programa “Dercy Espetacular”, de bastante audiência da TV Globo, e tirado do ar pela Censura da época, nem tanto pelos palavrões, mas pelo conteúdo crítico e explosivo da “desbocada” jovem. Foi em um domingo quando eu, então seminarista católico, fui em companhia de um bispo ao programa dela. E ri a me escangalhar quando Dercy, irreverente, dia que torcia para acabar o celibato, mas ela não queria casar com nenhum padre, queria era logo bispo! No programa ela ainda contou casos cômicos que enrubesceram a excelência reverendíssima. Neste dia conversei com ela umas porrinhas de minutos.

A terceira e última vez em que falei com Dercy Gonçalves, foi na avenida São João, em São Paulo, onde ela apresentava em um cine teatr0o um das suas peças, que acabei não assistindo, mas consegui esbarrar com aquela bela criatura (beleza não é só cara bonita) e pedir-lhe um beijo. Eu era novo e ainda solteiro, ela me atendeu e perguntou: “Tu ta querendo casar comigo?” Talvez se eu tivesse dito o sim, em vez de ficar estático com cara de boboca, seria agora um sexagenário famoso, afinal teria feito sexo com gata de cem anos!

Legal quando ela diz: "Não vi a vida passar, eu vivi a vida, eu saí na banda. Eu tenho idade, não sou velha", disse em entrevista a um jornal onde ainda complementou: "Vida é energia, quanto mais você dá para ela, mais tem de volta", E a centenária senhora deve ter dado muito, muito de si para alegria de muitos. Por isso, como alguns afirmam, “Deus está contemplando a alegria da espetacular vida, e a preservando entre nós que vivemos a fingir que não gostamos um palavrão”. E falando em Deus e Dercy, só tenho a fazer um pedido ao primeiro, e um convite à segunda:

Que Deus permita que eu absorva um pouco mais de coragem para expressar espontaneamente os palavrões que no meu cotidiano já saem com certas restrições, para que com eles eu não me martirize ao ponto de morrer antes dos cem anos de vida, e que eles diminua as minhas cargas de revoltas contra estes políticos que se julgam donos do nosso Brasil, ao ponto de achar que roubar é pró-labore. E que Dercy, se a ela chegar esta crônica, que atenda de já o convite para estar presente ao meu centenário de vida. Será um sonho encontra-la aos cento e quarenta anos, em 2047, entrando triunfalmente no salão em que meu bolo de cem anos estiver, e ouvir dela: “Oi gato?” E eu então tenha o prazer de ser beijado na boca por tal mulher de verdade de quem sempre fui fã, afinal para mim ela é ídolo!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia, e que em dezembro completa sessenta anos, sempre fá de Dercy Gonçalves... Depois da Festa do seu Centenário, em 2047, este jornalista dirá agora sim o velório pode seguir aquele projeto... Veja o projeto no endereço:

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