Bufinha foi com puta dor!

Menino de rua acostumado aos palavrões para ele o apelido de Bufinha não soava nenhum constrangimento, afinal era de baixa estatura, olhos esbugalhados e franzino corpo que denunciava a fome e os maus tratos da vida. Foi então que no bairro pobre onde ele circulava apareceu um programa social de inclusão digital, promovido por um governo qualquer. Ele foi festivamente matriculado, servindo nas páginas dos jornais coloridos a promoção políticos “donos” da benfeitoria,

O adolescente de dezesseis anos de vida real, e pelo menos o dobro em idade indicada por um aprendizado de dezesseis horas dia, nas ruas e praças da cidade. Ao colchão só se apresentava quando o sono o combalia. Alegre saturava o paciência dos colegas dizendo que ele, justamente por suas condição de vida e muita fome que passou, era o único que levava para as aulas de informática o seu próprio computador. “Como se ele é mais pobre do que nós?”, era a indagação geral, no que ele respondia: “Estou com puta dor na barriga”, e fazia um sorriso moleque!

Tratava-se uma úlcera que lhe aparecera, que vinha sendo agravada pelo consumo de álcool, cigarros e quiçá drogas! Afinal seu meio-ambiente não era de ar puro, água mineral e matas verdes. Era erva seca, água poluída e gazes do lixão no qual catava fétidos restos, onde também encontrava alimentos condenados à podridão. Certa vez ao achar uma sacola com um resto de goiabada rançosa e um pedaço de queijo mofado não se fez de rogado, raspou por cima e fez descer para o estomago tais iguarias.

Mas, em contraste com muitos que têm tudo, era um menino feliz que nunca reclamava das dores, nem da que sentia fortemente na região do umbigo que um dia foi-lhe cortado, separando-o de uma mãe solteira pobre que no parto morreu. Tios e tias morando na favela, cheios de filhos também. Que amor poderia ser compartilhado com Bufinha? Comprovava-se que há gente que vem do vento e vive em um redemoinho, mas que um dia, porque Deus é de todos, também será refrescado pela brisa do céu!

E já havia meses que, apadrinhado por um bem-feitor, não só estava viajando em um fantástico Mundo através de sites, blogues e páginas que viraram a sua vida, ganhara algo mais. Suas roupas passaram a ser novas, com novidades que não lhe faltavam convivendo harmonicamente com velhos problemas. Um deles, o mais grave, a úlcera que começara a ser tratada tardiamente por um médico público, que a cada cinco semanas lhe dava cinco minutos de consulta. Aprendeu usar remédios tomando três vezes ao dia as cápsulas, que para ele, antes, eram apenas restos de balas perdidas.

Bufinha um dia de feriado, fora do horário de sua aula, resolve ser feliz contemplando a sua escola virtual, aproxima-se da porta e olha pelos vidros embaçados contemplando a máquina; a “sua” máquina de comunicar com o Mundo... Ele sonhava quando apareceu o vigilante que não o conhecia e gritou “ladrão”. Algum colega de aula involuntariamente põe lenha na fogueira, e diz: “Lá vai ele fugindo com puta dor”. O vigilante interpreta errado e atira. O sangue nunca classificado se universal ou classe “C” escorre pelo bueiro. E a sociedade será que está com puta dor na consciência?

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OBS: O autor ficará com "puta" alegria se você comentar!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, de jornal Vanguarda de Guanambi, Bahia. Não tem dor de estomago e nem de consciência, afinal, sempre que pode, procurar ajudar a curar alguma úlcera social...