REDES PARADISÍACAS

Pareço bastante virtuoso em rede social. Mas não sou. Evidentemente não sou. Ninguém imagina do que sou capaz em minhas horas de fúria.Em meus desejos de vingança. E não imagina os vícios, as manias ou esquisitices que me compõem. Não. Não são aquelas manias charmosas do gênio que não sou. Aqueles empenhos e desempenhos do escritor que se torna uma personagem. São manias ou esquisitices de ser humano, mesmo. De pessoa que não tem domínio próprio, mas mesmo assim, vive pregando em verso e prosa esse domínio para os outros, na tentativa de se convencer.

É que as redes sociais têm o poder de fantasiar o caráter. Elas dão um trato especial nas nossas hipocrisias e realizam essa fantasia bastante humana de viver o mocinho. A mocinha. Trata-se de uma novela interminável que retrata um reino de muito herói pra pouco vilão. De muito cristão pra pouco herege. De muitos anjos pra bem poucos demônios... o mundo ideal. Neste meio estão disponíveis todas as asas; todas as auréolas necessárias para que gentes como eu, que são quase todas as gentes, quase unanimidade, vivam esses papéis fantásticos de pessoas invejáveis. Perdoadoras. Acima do mal.

As redes sociais são redes onde nos deitamos, depois de construirmos a boa fama imaginária, para desfrutar das admirações, também imaginárias, oriundas dessa fama. O Facebook é o paraíso superficial das virtudes humanas. Das mais admiráveis virtudes humanas.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 24/11/2015
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