A raiz humana da maldade

A atitude humana é produto do processo do pensamento. Por isso nas etapas iniciais da vida, por estarmos em pleno desenvolvimento e amadurecimento do intelecto, podemos não saber como agir em alguns momentos. Dessa forma, às vezes, ingênuos limpos de maldade, da esperteza, da mentira, da tirania e do delito, somos guiados, pelos que nos antecedem ou, quem sabe, pelo que se chama de sexto sentido. Segundo Jean Jacques Rousseau, importante filósofo iluminista do século XVIII, o ser humano nasce bom, mas a sociedade o corrompe. Sob o enfoque de tal afirmativa o homem tem a bondade em sua natureza e não necessita de muitas coisas para sobreviver, porém o progresso da civilização e o estabelecimento do privado teria tornado o homem ganancioso, avarento e invejoso.

Será possível afirmar que a culpa da maldade humana e da insanidade é de todos que vivem no mundo. Dos nossos antepassados que não souberam nos orientar. Do homem capitalista selvagem, que não tem respeito mútuo, mas cultua o egocentrismo exacerbado; da busca irrefreada pelo materialismo e o incessante lucro. E mesmo assim não assumimos nosso erro. O racionalismo para o discernimento parece ter se escondido de medo e foi para longe da força benevolente. E a ideia que nos move se aglutina às diversas informações sem conexão nesse mundo. É lamentável saber que, por diversas vezes, não conseguimos anteceder as consequências do mal e ver a destruição total que ele causa quando é alimentado! Existem, ainda, aqueles que encontram o prazer em fazê-lo. Ao que parece, pelos acontecimentos hodiernos, o secreto, o proibido, infelizmente continua sendo mais “saboroso” do que o cumprimento do dever, do que, por exemplo, provocar o sorriso no outro por uma graça alcançada, por uma caridade atendida.

O que estamos transmitindo e formando, que ideologia estamos ensinando aos nossos filhos? Isso assemelha-se ao dito popular em que apenas aconselhamos ao outro, mas não praticamos o que proferimos. Estamos navegando em um mar de referenciais negativos, e é clarividente que essa direção não é para uma vida louvável e salutar. Compreendemos, então, que estamos já condenados e predisponíveis ao afogamento nesse mar de lama e de sangue se algo não for feito para modificar esse cenário inóspito.

A mente não deve estar encarcerada, mas livre e nos limites que são saudáveis e aprazíveis. Conseguimos administrar o que falamos, o que pensamos, ou o que é negativo, é também indissociável a nossa vida? Há mais de 2000 anos a Bíblia Sagrada já tratava disso de maneira eloquente em Mateus, 15:18-19: mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.

Já é comprovado que não utilizamos a nossa total capacidade de pensar e agir! Pois nem sabemos o limite de nossa mente, e por conseguinte somos até indolentes para utilizar esse potencial. E a nossa medida é o bem ou mal? Nesse quadro o outro não é nem lembrado e nem sabemos onde nos encaixamos nesse quebra cabeças. Em nosso dia a dia buscamos a verdade e a vida e em outros momentos nos deixamos levar, morrendo literalmente para o nosso eu e para as outras pessoas?

Já ouvimos dizer que até atores profissionais que interpretam personagens de entretenimentos novelísticos ou longas metragens na TV e no teatro, que representam papéis de vilões são os mais aplaudidos e mais destacados em uma trama. O que se depreende é que também na ficção a virtude está perdendo espaço para o infortúnio. A cortesia, a educação, o reconhecimento do erro e a fraternidade parecem estar fora de moda. Paralelo a isso verifica-se que hoje não se tratam os mais experientes por “senhor”, mas apenas por você ou “ocê” que é pior ainda. Pois a experiência, os cabelos brancos já não mais representam a sabedoria, o respeito, a mesma autoridade que transmitira outrora. Para complementar o que corrobora esse raciocínio, nos diz o pensador alemão Johann Goethe (séc. XVIII) que “quem não é fiel à pequenas coisas, jamais será nas grandes”.

O bom senso não é mais utilizado no pacote de ensinamentos que eram entregues e absolvidos pelas famílias. Pois, afinal, nem a família é mais tão respeitada e valorizada como antes. Nos parece que há um conflito de gerações, de ideias, confronto sobre quem é que manda mais, ou de quem pode mais. Ser íntegro, altruísta já está ultrapassado e perde cada vez mais espaço para o grito alto do mais forte. Como há milhões de anos, para o individualismo dos que tem, para a possessão e supervalorização do concreto em detrimento do mistério da corrente do bem. Corrente essa que está dilacerada e corroída, sem se renovar, sem se recarregar, sem se transparecer para refletir a paz, a luz, a claridade, o afeto, a alegria de ser quem se é, apenas pela busca do crescimento interior e para fazer o outro um pouco mais feliz.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 25/11/2015
Código do texto: T5460191
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