AMOR AO PRÓXIMO

É bem cômodo este meu amor ao próximo que me agrada e oferece contrapartida. Massageia o meu ego, por estar sempre de acordo com as minhas ideias e corresponder às mais fundas expectativas.

Amo ao próximo que sempre soma para os meus ideais e fecha comigo no que der e vier. O próximo bem próximo, por ser aquele que dá vantagem, é meu cúmplice ou confidente, me dá razão, me admira, obedece ou apoia, seja qual for a causa.

Ou amo aquele próximo distante, que dá status amar. Que me deixa bem, aos olhos da sociedade, cada vez que ostento amor com um gesto remoto e único, para também fazer as pazes com a própria consciência.

Mas não amo aquele próximo que me desconforta. Tão próximo e sem afinidade. Sem possibilidade, promessa e sentido para para os gritos de minha vaidade; as necessidades mais profundas; aquele velho egoísmo da voz ansiosa pelo próprio eco.

No fim das contas, reconheço que o que faço e difundo como tal, não é exatamente amar ao próximo. É cuidar dos meus interesses.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 04/12/2015
Código do texto: T5469676
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