Escrever
 
    Escrever. Ah escrever. Escrever é acordar palavras, e as "palavras são pássaros apressados, é preciso ter alçapão à mão". — Para quê?  Clarice Lispector, disse: "Escrevo para livrar-me de mim, de alguns medos". Lygia Fagundes Telles, mais prudente, diz: "Hoje minha face lúcida acordou antes da outra e está me vigiando com o seu olho gelado". "Não te condenes, adverte Fernando Pessoa, a morrer com os teus defeitos".
    Eros e Tânatos, deuses da mitologia grega, Freud elegeu para personificar as pulsões da vida e da morte, pois a paixão não canalizada para o amor pode transformar-se em rancores, rejeição, ódio. Emoção que não se expande transforma-se em depressão.
    Freud, doente, solitário, abandonado, padecendo de câncer no queixo, escreveu entre suas mais brilhantes obras — Para além do princípio do prazer  (1920); e O mal estar na civilização  (1930). A grande importância deste estudo reside na visão do ser humano em meio há dois instintos opostos: Eros trabalhando pela criatividade, harmonia, conexação sexual, reprodução e autopreservação; e Tânatos lutando pela destruição, repetição, agressão, compulsão e auto-destruição.
   Adoecer exige introspecção, é sair do espaço externo para o tempo interior. "Felicidade é, assumir nossas verdades e tamém nosso lado trágico, féio". O homem, megalomaniaco, jactante de sua grandeza e realeza, lentamente vai compreendendo sua profuda indigência: indigência de inteligência absoluta, de justiça absoluta, de liberdade absoluta; Ainda aqui a história da revelação — a perspectiva cristã —, vem completar a visão filosófica.

    A par da sede metafísica de Deus  ("Fizeste-nos para vós, Senhor, e nosso espírito está inquieto, enquanto não repousa em vós") — esclamou o filósofo e santo Agostinho — há ainda a presença do fermento evangélico operando no homem e apressando sua descoberta de Deus ("O reino dos céus  é como o fermento... até que fique levedada toda a massa..." — ensinamento de Jesus, (Mateus, cap.13, versículo 13; Lucas, cap. 13, versículo 20,21; Corintio, cap. 5, capítulo 6; São Paulo, gálatas cap. 5, versículo 9). O homem, portanto, é conquista. Cada qual deve conquistar-se para se tornar autenticamente homem. A vida é combate.
    E o amor? O amor abre o coração para a cura; um ponto de vista é a vista de um ponto, e a nossa mineira Adélia Prado, retoma, sem medo, o caminho do amor. Para ela "o amor é a coisa mais alegre, o amor é a coisa mais triste, o amor é coisa que mais quero".

 
Roberto Gonçalves
Escritor




 
RG
Enviado por RG em 28/12/2015
Reeditado em 09/07/2016
Código do texto: T5493196
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