Papéis (*) invertidos

(*) - ainda tem acento essa palavra?

Boa tarde meus caros 23 fiéis leitores e demais 36 de quando em vez. Hoje, pela primeira vez em 2016, chego exatamente na Baca hora, 17h19min, aqui em nosso encontro de toda Baca sexta. E tudo devido a um mau motivo: voltei da praia. Isso mesmo, esse Bacamarte abandonou o mar, a brisa, a areia, as gostos... Melhor parar por aqui, vai que a Louise resolve ler as minhas crônicas, né?

E nem bem chego em casa já tenho uma tarefa para o dia seguinte: levar minha mãe à clinica em Nuut para fazer exame de visão. Tá ficando cegueta a velinha, aos 75 anos. Meu irmão foi para a praia e passou essa bola para mim. Pensei em mandar o Toninho Jr, só de sacanagem, mas sei lá, não arriscaria colocar mamãe sob a responsabilidade dele.

Além de cegueta, a dona Bacamarte tá manca. O joelho tá comprometido (não, não se preocupem, não vou explicar a doença dela) e ela tem de usar muletas. Anda como se fosse uma tartaruga velha. Apesar de que uma tartaruga com 75 anos não deve ser velha, né? Deve ser uma moça ainda! Mas vá lá, a dona Bacamarte não é uma tartaruga, só se movimenta como uma, apoiada em suas muletas de alumínio.

Acordei 06:45 da manhã, nosso ônibus era às 07:30. Na ida, lembrei quando minha mãe levava eu e meu irmão à Nuut de busão, nós éramos pequenos e cabíamos juntos num dos bancos, o da janela, claro. Ela costumava levar a gente ao médico. Agora era eu levando ela. Os papéis se invertem. O mundo gira e a lusitana roda. E a Groenlândia também.

Chegando na clínica, de táxi, vamos lá ver a consulta. Mamãe trouxe um dinheiro para pagar a diferença dos exames, que o plano dela não cobre todo o custo. A moça deu o valor. Mamãe:

- Tudo isso?

Senti a maldade.

- É que a senhora é da categoria mais alta do plano, daí a diferença é maior.

Mamãe pensava que ainda estava na categoria mais baixa de seu plano. Será que a memória também já tá batendo biela? Cegueta, perneta, diabética e ainda por cima caduca não né, por favor!

Como mamãe não tinha dinheiro suficiente, pedi o seu cartão. Ela só tinha o cartão do banco, não trabalha com cartão de crédito. Senti a maldade de novo.

Puxei o meu cartão e disse pra ela:

- Tá mãe, me deve 200 reais.

A moça arregalou os olhos.

- Mas são 172 reais, senhor.

Olhei firme para ela:

- Querida, faço isso porque ela é minha mãe. Se fosse você, seriam 250.

Depois dos exames, levei a dona Bacamarte para o shopping. Caminhando por lá, ela reclama:

- Como é grande esse lugar, tudo é longe aqui.

- Não mãe, a distância é normal, como em todos os shoppings. Olha em volta, todo mundo caminhando na boa. É que a senhora só percebe isso agora porque tá com a mobilidade comprometida.

- E verdade. A gente só dá valor para as coisas quando perde.

- Sim. E esse mundo é projetado só para as pessoas saudáveis, normais. Os outros que se estrepem.

- É verdade, meu filho.

- Mas pense pelo lado bom mãe. A senhora, usando as muletas, está exercitando a parte de cima do corpo, ficando com os braços fortes.

- É verdade, meu filho. Vamos almoçar?

Bom, ainda bem que o apetite de mamãe continua intacto. Mazá dona Bacamarte!

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

Mais textos em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 29/01/2016
Reeditado em 02/05/2016
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