CONFISSÕES

Para me aprofundar nas amizades com quem mais me cativa, o parágrafo único de minha lei é que tais pessoas sejam da mesma faixa etária que eu. Sendo assim, tenham boa visão do mundo e considerável grau de vivência; de compreensão das complexidades do ser humano. Sobretudo, condições de não confundir ou distorcer as minhas esquisitices.

Advogo em causa própria, pois tenho muitas esquisitices. Uma delas é a já citada classificação etária por natureza de relação e comportamento. Passei anos e anos tentando vencê-las, mas na verdade fui vencido por elas. E ao me permitir o aprofundamento nas amizades em questão, me torno confidente. Deixo de me obrigar certas composturas e confio plenamente no outro, como confio na confiança plena que o outro tem em mim.

Evidentemente, as tais amizades também têm seu parágrafo único: a opção de jamais se deixar aprofundar. Ou de retornar ao estágio comum; trivial. Sem maiores demonstrações de afeto, confiança, cumplicidade ou entrega. Só a leveza dos cumprimentos, das conversas breves, dos encontros ligeiros e casuais; a simpatia; o coleguismo.

A máxima de que é preciso saber viver passa por aí. É preciso saber com quem se lida; em quem se confia. Quem confia em nós, até quando e onde. Saber entrar, sair e transformar uma relação. Toda forma de amor e amizade vale a pena, se a nossa carência for seletiva, observadora, criteriosa e de brio.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 02/05/2016
Reeditado em 02/05/2016
Código do texto: T5623143
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