EM TEMPOS DE OLIMPÍADAS...

Competição e colaboração: dois modelos opostos de conquista. Competir é colocar-se como adversário de quem busca o mesmo objetivo. É lutar para chegar à frente e ocupar o primeiro lugar. Colaborar é dar as mãos para que a soma dos esforços conduza a todos para o crescimento e para o sucesso.

Na competição predatória, somente parte da energia é canalizada para o objetivo. O resto é perdido no atrito da disputa: a energia de um choca-se com a do outro e ambas se anulam, sem qualquer benefício para o resultado. Neste modelo, um dos competidores é sempre prejudicado, anulado ou destruído.

Na competição saudável, no entanto, quando os concorrentes visam aprimorar-se ou angariar a aprovação de pessoas, mercados ou sociedades, e, com este propósito, devem se tornar cada vez mais efetivos em sua relação com estes grupos, o benefício pode ser observado, tanto para os grupos, que usufruirão da crescente efetividade dos concorrentes, quanto para os eles próprios, que verão seu desempenho melhorado a cada passo.

No entanto, a competição somente será saudável quando os competidores perceberem que, vitória ou derrota, ambas trarão o benefício do “feedback”. Na vitória, o prêmio; na derrota, o alerta para a avaliação e superação das limitações.

A competição deve ser vista como uma relação sinérgica, pelo confronto, que potencializa nossas forças e virtudes, principalmente quando, embora oferecendo o melhor de nós mesmos, somos derrotados. É assim que mais nos empenhamos em nosso próprio aprimoramento; pois, competir com mais fracos, em nada contribui para a melhoria de nosso desempenho. Isto vale para a política, a economia os esportes e, até mesmo para a educação, área em que as atividades lúdicas competitivas são uma grande motivação para o aprendizado.

Por outro lado, o modelo colaborativo somente é efetivo quando baseado no altruísmo e no amor. A colaboração tramada por um grupo de interesses para destruir, fraudar ou se enriquecer às custas do empobrecimento ou infortúnio de outros grupos é ainda pior que a competição em que as regras são obedecidas e a ética é preservada.

A competição saudável é um modelo legítimo para os momentos de abundância, onde não faltará para ninguém, vencedores ou perdedores. Nas crises, no entanto, todos perdem quando a disputa pelo poder ou por recursos escassos se torna uma questão de vida ou morte. Neste cenário, o adversário é a própria crise e, a colaboração, nascida espontaneamente da generosidade humana, poupará energias e garantirá a sinergia, pela soma de esforços, necessária para que uma sociedade em crise sobreviva e se recupere.

No entanto, a competição não pode se sobrepor aos valores humanos, assim como a colaboração deve ser espontânea: não pode se impor, nem contrariar a vontade individual assegurada pelo livre arbítrio.

Quanto mais elevado o estado de consciência das pessoas, mais os extremos se afunilam para encontrar a unidade. Assim é com as conquistas humanas. Nos níveis elevados de consciência, a competição se aproxima da colaboração, ambas inseridas no esforço por conquistas. Competir com o coração focado no competidor, assegurando seus direitos e sua integridade física e psíquica, é mais que um “fair play”. É um confronto associativo de esforços, em que o embate produz o estresse necessário e suficiente para o crescimento dos contendores, sem assumir proporções de malignidade, de potencial aniquilador e destrutivo.

Competição ou colaboração? Quando prevalecem os valores mais nobres do ser humano, ambos os modelos são legítimos, cada um em seu contexto e, principalmente, quando integrados. A resposta, portanto, não está na escolha de um ou outro modelo de conquista, mas sim no grau de consciência daqueles que o utilizam.