Quando descobri o meu pai.

Um dia descobri que tinha um pai, até então via um homem sair do quarto da minha mãe . Um homem que ficava me olhando enquanto eu mamava, e isso me deixava curioso, olhando com o canto de olhos, até que um dia me atrevi e atravessei o pátio, entrando naquela sala cheia de livros...e o vi, era o mesmo que falava com a minha mãe, num "hummm, hummm..." que não me parecia decifrável. Abaixou o livro, e me olhou com carinho, me estendendo os braços e me sentando em seu colo.

Pegou uma folha fina e branca, e abrindo a tabaqueira fez um cigarro, como era do seu costume, enchendo o ambiente com uma fumaça que lhe ocultava o rosto, suas pernas cruzadas ainda com o tomo nas mãos, e uma voz grave e serena, que me passou confiança...ou proteção.

Quando se foi, porque um dia tudo termina de alguma forma, fiquei com a sua cabeça apoiada no meu colo por horas, até a perícia chegar, e naqueles instantes que pareceram segundos, passou um filme pela minha cabeça, e pelo trâmite legal foram horas que viraram noite e dia novamente, sem direito a uma boa despedida, mas hoje eu agradeço a Deus pela oportunidade de tê-lo assim , mesmo que inerte. Dá pra entender ? Que privilégio !

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 28/08/2016
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