Feminicídios


Suportar a dor de não exercer a ira é dilacerante, bem mais dilacerante do que uma desilusão amorosa. Há uma epidemia de violência contra a mulher e a partir da premissa que todo corno é um abençoado por Deus, premissa humorística porque o humor é uma benção, porque perdoar só é necessário uma vez e ficar ressentido ou cometer um assassinato é para o resto da vida. Perdão este com duas vertentes: o de se separar sim, o de continuar a vida a dois a partir da superação das causas e efeitos da traição, muito difícil, sem dúvida, mas não impossível. Porque é muito melhor ser corno do que assassino. Tais retaliações que podem levar à morte de uma mulher, nem são na maioria das vezes, com base no que se percebe nos noticiários, devido ao adultério, o que se vê é matar alguém por causa de querer a separação e exercer essa vontade, por causa de terminar um namoro.
Entre brancos, negros, mulatos, judeus, árabes, argentinos, gays (LGBT), mulheres e homens há canalhas; o caráter não é definido pelo gênero ou origem. Piadas também não são necessariamente ofensivas, o que mais existe é piada e música de corno, música de gozação com algo triste, rir da tristeza é uma redenção, sentir pontas de saudades de um amor que não deu certo é outra; digamos; Gladston Henrique operou as hemorroidas e já pode casar de novo, o que há de gozação nesta piada em forma de miniconto, não tem nada de ofensivo, é apenas para rir, não rir se não quiser. Porém, compreenda-se a violência verbal de quem foi traído contra quem se deixou trair, muitas vezes o próprio sujeito agente passivo da traição. Por que ela fez isso? Nelson Rodrigues tem uma peça em que o sujeito que via traições potenciais onde não existiam; um ciumento, peça sob o nome Perdoa-me por me traíres.
Gunther Grass em seu romance O linguado, diz que na literatura faltam personagens femininas mais propensas a causar gargalhadas, mas como podem a mulher no outro extremo serem acusadas de estoicismo diante do sofrimento, se a violência contra elas tem sido intensa dede priscas eras? Estoicismo que o feminismo combateu; estoicismo assentado no medo! Houve um tempo em que se ouvia muito samba de dor de cotovelo, hoje a cultura musical é outra, há quem goste. O samba ou qualquer canção de dor de cotovelo são meios de elaborar a perda, sentir tristeza, superar a tristeza, seguir adiante. Que sociedade é essa em que vivemos onde houve a involução de tratar a mulher como objeto? Gisele Bundchen, uma deusa, pousa sem sensualismo é uma modelo profissional, leva uma vida correta, foi ou é a modelo mais bem paga no mundo. Não analisaremos aqui eventuais comportamentos femininos que possam como hipóteses contribuir para o aumento da violência contra a mulher. É preciso de música para suportar a dor de não exercer a ira em sua manifestação perversa, mulheres extremamente vulgares também causam violência contra o próprio gênero, não vai aqui nenhum moralismo. Elas é que são notícias de jornal. Machismo, misoginia, conflitos psíquicos masculinos – inclusive de identidade sexual – tanta coisa a dizer, tão pouco espaço.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 13/11/2016
Reeditado em 14/11/2016
Código do texto: T5821949
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