QUESTÃO DE SEMELHANÇA

A solidão é sufocante quando não se tem nada a perder. Nasce de uma pontinha de ansiedade e percorre suas veias até atingir todo o corpo com seu efeito de angustia. Dominar a si mesmo parece ser tarefa fácil para uns e outros, mas não se domina o medo que aflora de seus poros. Passado segundos de atenta monotonia em que perde seu olhar ofuscado pela calada da noite, percebe que o cigarro queima pele sensível de seu indicador. A mancha avermelhada brota entre os traços de sua epiderme não parece mais ridícula do que sua própria existência. A dor é irrelevante a medida que é tragada para seu interior assim como o fez com última rajada de fumaça. Tem passado dias difíceis para um mero estudante da história local. Seu foco e objetivo confundem-se em desanimo visto suas aulas retrogradas e enfadonhas. Tudo a sua volta poderia permitir novas oportunidades para o acaso, mas não passa de mera imagem andante para todos os demais. Isto porque aqueles que o vem não o percebem e o que é pior, talvez nem mesmo eles se percebam. Para tanto dramatizar seu cotidiano já considera obstáculo vencido, agora o que menospreza é sua situação de desvantagem. Todo aquele que sonha alto tende a vivenciar terríveis pesadelos quando de uma oportunidade negligenciada por seus mecanismos de autodefesa. Rasura papel com a pouca tinta que lhe resta afim de procurar por abstinência de sua insanidade. Tropeça em palavras desconexas quando em grupo e por isso sempre lhe foi concedido direito ao silêncio. Traumatizou-se por várias vezes quando movido pelo interesse do querer compartilhar algo ou expressar sua ideia, piada, causo de forma toda errada e sem acrescentar demasiado interesse. Colegas e amigos o conheceram pelo silêncio outros pela seriedade, mas nunca o questionaram do porque de suas atitudes estranhas. Evitou ao máximo exagero de proximidade pois segundo suas intenções de relação afetiva sempre deve haver um distanciamento entre afinidade e ocasião. A ocasião deste modo torna-se a oportunidade de ambos negociarem suas experiências de vida em busca de um mínimo de semelhança. Quando da ausência desta semelhança receia que a experiência de certa forma se torna falha e deste modo imobiliza qualquer que seja ação afetiva entre ambos. Mas enquanto estudante de história local não apreende a semelhança das situações que envolvem o cotidiano humano, tudo gira em torno de novas redefinições sobre o sujeito e seu lugar a que se sujeita. Torna-se apreensível e vulnerável a medida que todos o buscam em função das semelhanças ou pior lhe implorando a definição da semelhança. O que quer dizer que se a semelhança realmente existe então tudo faz parte de uma forma que o assemelha enquanto pertencente a um grupo de semelhantes. Entretanto o que constitui a semelhança? Em que aspectos da vida ela embasa sua legítima defesa da existência? A teoria da semelhança é um aspecto furado de nossas reflexões pois se ora somos semelhantes por constituir vida somos distintos no modo como vivenciamo-a o que leva a crer que somos diferentes. Portanto é a vida que torna a vida possível ou é um modo de vida que a faz diferente da vida que congrega as possíveis semelhanças?. Se fossemos feitos a semelhança do outro não seríamos humanos, mas sim produtos mecanicamente processados em uma linha de produção fabril. Mesmo o resultado de toda uma produção que se estabelece em uma linha de produção não é semelhante a outra em forma, tempo ou espaço. Resumir a semelhança humana a partir de sua célula animal torna-se ainda mais confuso pois cada célula constitui um código genético que diferencia uma da outra vista a função que desempenha. Comparar as semelhanças de eventos históricos torna-se ainda mais anacrônico visto a impropabilidade de torná-los ao menos análogos um ao outro. Portanto se buscamos as semelhanças de algo buscamos errado. Ditar a semelhança, seja ela qual for, é se não um mecanismos de defesa para que o caus da constante renovação não consuma sua degenerada compreensão sobre o mundo. Torna-se mais fácil e prático para não dizer comodo de que a semelhança que não existe habita os corpos e as ideias de tudo aquilo que se diferencia pelo simples fato de existir. Portanto é mais agradável a João escrever sua história do que buscar por semelhanças enquanto constitui leitura sobre outros modos de escrita de história nada semelhantes a si próprio. Procura, portanto, na diferença ambientar o caus que habita seu ridículo modo de existência. Bastaria uma só semelhança para que neste exato momento João deixa-se de existir.

Jack Solares
Enviado por Jack Solares em 05/12/2016
Reeditado em 05/12/2016
Código do texto: T5843960
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