Compulsão ou vício

A diferença entre vício e compulsão sexual reside em que o vício, na esfera da sexualidade, faz com que o ator que idolatra o sexo obtenha alívio de conflitos e de fraquezas idiossincráticas relativas à sua experiência de vida, que o faz repetir, enquanto a compulsão sexual busca o prazer muito mais do que este possa ser exercido para o sujeito obter alívio, busca o prazer pelo prazer. Nas aparências, sugerindo que não haja conflito. Não sofre de satiríase, não é um Don Juan que sinta mais prazer em seduzir do que em realizar o ato sexual. Às vezes prenhe de fetiches.
A incontinência masculina relativa ao sexo, muitas vezes não se traduz em conflito como uma das suas consequências. Simplesmente é, e se não houver constrangimentos sociais (descoberta de adultério, filho fora do casamento) se mantem, às vezes apesar até mesmo desses constrangimentos.
Já o vício, embora não impeça que o ator tenha relações com mulheres, é mais reservado. O que mais caracteriza o vício é o fato de sempre levar ao isolamento para ser exercido. Exceto o alcoolista de botequim, cujo meio social passa a ser o bar, em detrimento do convívio familiar ou social; os demais vícios são tão degradantes para o sujeito que terminam em isolamento.
No adicto ao sexo o isolamento vai desde o convívio com garotas de programa ao isolamento do pecado solitário, como se falava sobre a masturbação em outros tempos, ou vício solitário, onanismo esse estimulado, hoje, por facilidade de acesso à pornografia. Uma relação sexual não é algo tão demorado ao momento do gozo; assistir pornografia permite ao sujeito este gozo em potência por horas e horas de pré-excitação, movimento de fuga em relação às frustrações, a um ambiente familiar não acolhedor ou deserotizado, ou ambas as coisas ao mesmo tempo.
O que é causalidade ou casualidade na emergência de atuações viciosas é muito difícil de separar, não só porque são duas palavras anagramáticas, mas porque a compreensão de esse ou aquele mau hábito não necessariamente vai ajudar a fazê-lo cessar. Visto ser o sexo fantasioso ou real uma atividade que produz aumento dos níveis de dopamina, substância relacionada com a saciedade, que, momentânea, faz o sujeito recidivar em busca círculo-viciante da saciedade.
Tal situação, analisadas as situações causais e bem compreendidos seus efeitos, deve ser tratada como vício, receber tratamento pessoalizado e compreensão da família suficiente para dialogar sobre esse tabu, pois,  mesmo após todas as liberações sexuais, a atração sexual mantem-se ainda muitas vezes ameaçadora, seja porque evoca o amor ou a libidinagem. 
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 26/01/2017
Reeditado em 26/01/2017
Código do texto: T5893528
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