A preguiça nada mais é que o envelhecimento precoce da vontade. Dizem ser o menos pior dos pecados capitais porque nos impede de cometer os outros seis. A sobrevivência da preguiça depende de algum mover-se, ainda que seja apenas para comer, enquanto a inércia instiga a pensar a ter um tempo definido como necessário ao espírito. Mário Quintana escreveu um livro sob o título A preguiça como método de trabalho. Em momentos de leitura precisamos de algum relaxamento, embora livros de suspense ou de história possam causar tensão. O desforço rumo ao relaxamento face à ofensa da pressa é feito no yoga ou, para os sem condições de relaxarem-se, com drogas psicoativas todas elas comprometedoras da consciência. A ambiguidade de tratamento à preguiça chama de relaxado o sujeito descumpridor dos seus deveres. A depressão é a face enferma da preguiça, quando o sujeito precisa de socorro por ter perdido, às vezes, graus progressivos da capacidade de cuidar de si mesmo. Face pouco encarada da preguiça é aquela da argumentação ou falta dela em relação às atitudes e atividades que não levam a nada, seja na busca de sexo, amor ou realização material. Ao que ao final da missão impossível nos diz tudo ter sido perda de tempo. Mas essa fronteira sobre o que é relaxamento (ou calma) em um sujeito não relaxado, isto é, capaz de cuidar de si sem egoísmo, dos outros com amor e compaixão, e da realidade feita de decisões que permitam a cada um viver as melhores escolhas é muito tênue, não só por nenhuma individualidade ter definição matemática como por a vida humana ter um sentido social, familiar e egoico. Muitas das ações da preguiça nos levam a nada, nessas horas a preguiça finge não querer repouso, porém ao fim do seu ciclo de ações ela obtém a inércia desejada, sob o álibi do dito: Eu tentei. A preguiça por ser humana torna enfim o outro impotente na tangência de nada mais poder fazer pelo preguiçoso, vestido de fracasso, roupagem andrajosa de quem não tem condições de cumprir os deveres consigo mesmo, em uma política individual de terra arrasada. Terra de ninguém.
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 17/02/2017
Reeditado em 17/02/2017
Código do texto: T5915269
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