PERDOAR NUNCA, ESQUECER JAMAIS ("Se um pedido de desculpas tivesse o poder de absolver todos os transgressores jamais em minha vida perdoaria a quem perdoa." — David Saleeby)

Caminhando pela estrada sinuosa da vida, carrego comigo as palavras de Ana Carolina: “E quando eu finjo que esqueço, eu não esqueci nada.” Como professor, sinto uma raiva crônica daqueles que me prejudicaram, me perseguiram e me maltrataram. Nunca planejei vingança, pois acredito que não vingar é uma forma de matá-los de desprezo, sou confiante na lei do retorno. Porque, perdoar é se permitir ser enganado e ofendido novamente, até setenta vezes sete é muita ingenuidade.

Lembro-me de uma mãe que foi me denunciar à diretora, porque me viu tomando uma cerveja zero álcool a caminho da escola. Não sei se ela gosta muito de mim querendo me purificar ou me sujar mais ainda dificultando meu trabalho. Ela não sabia que esse tipo de bebida não faz mal, estudou pouco; é alimento, ou ela queria apenas se mostrar superior, prejudicando também minha reputação. Então, potencializada com o apoio da diretora e coordenadora, fui punido, e isso consta na escola em uma ata assinada por mim, sobre essa repressão.

Neste parágrafo meu foco é essa mãe denunciante visto que foi minha aluna na EJA e trabalhava no mercadinho em que comprei a latinha. Colhi essa malquerença por não ensiná-la bem, ela não queria aprender, apenas dizer que tinha amigas formadas. Agora, mesmo querendo perdoá-la, é mais forte minha promessa de jamais esquecer suas ofensas. Estou tentando lhe compreender. Estou até disposto a protelar o máximo possível meu julgamento, fingirei meus lamentos por não ter lhe ensinado nada significativo para a sua vida, pois a maioria dos alunos da EJA só quer diploma. E semana após semana torno a pensar nela com uma maldição pronta nos lábios.

Mas, neste final de semana natalino, quero por um momento, esquecer-lhe como representante de todos os meus problemas, ser um pouco mais otimista e me inspirar no nascimento do Messias. Sei que todos esperam atitudes firmes, independentes e assertivas de mim como professor, mas prefiro parecer fraco. “O contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença. Quem “odeia” está mais envolvido do que supõe…” (Martha Medeiros). Sim, muito envolvido por não querer lhe esquecer pelo que sofri.

Termino esta crônica com as benditas palavras de Simone de Beauvoir: “Não se pode escrever nada com indiferença.” E assim, caminho pela estrada da vida, carregando as lições aprendidas com ódio, as feridas abertas e pouca esperança de um amanhã melhor. Porque no final, somos todos professores e alunos na escola da vida.