A CHATICE DE SER CHATO

Dia destes, lancei mão de um expediente pouco habitual de minha parte, mas por uma causa bastante justa e sem nenhuma consequência desagradável. Queria constatar se às vezes me torno um chato, para determinada pessoa. E constatei. Na verdade, para uma pessoa bem improvável, pelo menos até então.

É bem possível que tal pessoa, que a propósito é muito querida para mim, também seja, em determinados momentos, um chato para outra pessoa, igualmente querida, quiçá improvável, que por sua vez o é para outra, dentro dos mesmos contextos e parâmetros. Nosso afeto por algumas pessoas de quem gostamos muito às vezes nos furta um pouco a noção de grude ou de momentos inadequados.

Constato enfim, que todo ser humano é um chato, pelo menos às vezes, para pelo menos alguém. Ao mesmo tempo, concluo que seria chato não haver um só indivíduo que nos queira bem tal a ponto. Ademais, creio que ser um chato casual para uma ou duas pessoas não determina que alguém é, exatamente, um chato em potencial. Dessas personagens indesejáveis para todo mundo.

Sabedor de que sou este chato casual, farei o possível para deixar de sê-lo, sem deixar de nutrir o afeto sincero e recíproco. Em nome do afeto, preciso estabelecer um processo gradativo e sutil para o desgrudamento. Seria muito chato deixar o alvo de minha chatice perceber que eu percebo que às vezes sou um chato.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 28/05/2017
Reeditado em 30/05/2017
Código do texto: T6012029
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