Vovô Macaco e sua catarata azul claro de céu de outono

”Vovô macaco e sua catarata azul de céu de outono

De repente,saímos correndo de dentro da pequena sala da casa de “Vó Fela“(Da Maria Felix,a maior benzedeira da região),Assim que aterrissamos na rua,eu,Betinho,,,mais velho que eu e Rubinho,mais novo,os 3 primeiros dos 10 filhos de Da Flávia,filha de Vó Fela,.onde passávamos o restinho de nossas férias escolares.

Assim que aterrisamos na rua, nos deparamos com uma cena inusitada pra nós até aquela data:Do outro lado da rua bem em frente, um velho de cabelos brancos sobre as orelhas e careca na parte de cima da cabeça,tirou o cinto de couro da calça e surrava três homens de barba na cara,aparentemente bêbados que choromingavam...”Náo,pai...Para,pai...

Olhamos espantados pra Vó Fela que tinha vindo até a porta da rua,ver o motivo de tanta algazarra

;Ela então nos explicou que”Seu Raimundo macaco”,ou Vovô macaco,como ela nos ensinou a chama-lo, ficou viúvo muito cedo e criou os três filhos(Aristeu,o mais alto,Otávio o mais moreno, e Ciço, o de barba cerrada) sozinho.

Deu no que deu.Nenhum dos três era chegado a trabalhar e viviam vagabundando pelo Cedro ,viviam graças á aposentadoria do velho, que trabalhou na fábrica por dezenas de anos até que ficou cego graças a uma catarata que cobriu seus olhos como uma cortina azul claro que porem náo o impedia de lavar,passar e cozinhar ,andar por toda a cidade,fazer compras,etc.

Teteu era o único que de vez em quando o ajudava na cozinha e ainda deixava a comida queimar na panela. Os outros” náo queriam nada com a hora do Brasil”Quanto mais apanhavam,mais bebiam cachaça.

Mas peraí:Ele náo era cego? Então como conseguia acertar as correiadas nos lombos dos pinguços?

E porque os três náo corriam pra fugir das chibatadas?Foi aí que Vó Felá explicou:

Ele sabia em que direção se moviam, pelo cheiro da cachaça!

E os três náo saiam do raio de ação do cinto de couro, em respeito e medo que o velho ficasse mais furioso ainda.É verdade quw exageravam no choro,pra ver se o velho parava de bater,o que só acontecia quando Vovô macaco se cansava e suado, se sentava no banco de madeira em frente á casa,do lado direito da porta.Outro fato que nunca esquecí é que sempre que chgavamos no Cedro pra passar

Férias,o primeiro compromisso era visitar Vovô macaco pra levar o abraço que nossa mãe tinha mandado pra ele.Nessas ocasiões, ele passava a mão por detrás do banco de madeira,pegava uma garrafa de vinho doce que escondia sempre no mesmo lugar, pegava um copo de vidro empoeirado na estante que ás vezes vinha com alguma teia de aranha de brinde. Eu confesso que ficava meio enjoado por ter que tomar aquele vinho naquele copo,mas pensando melhor a intenção do velho era ser simpático e as cortinas azul claro de céu de outono impediam-no de ver “pequenos detalhes"...

Acabado esse ritual nos despedíamos correndo e íamos em busca dos amigos de pelada,banho no córrego e caçadas de passarinho com arapuca de gravetos...Um por um gente beijava a mão trêmula de Vovô macaco e saiamos quase correndo, até porque dali a pouco tempo Teteu e seus irmãos chegariam da rua e se tivesse alguém de porre começava o ritual da surra de cinto na rua,para espanto de novas crianças que estivessem passando por ali...

Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 11/08/2007
Reeditado em 21/08/2007
Código do texto: T603239