Visitando o Michel Temer na UTI

Entrei no Hospital do Coração do Brasil localizado na asa sul em Brasília. Subi ao segundo andar para visitar meu primo Anastácio internado na UTI devido a um infarto agudo do miocárdio. Trabalhava numa empresa concessionária da Petrobras. Quem está saudável nesses tempos nada fáceis? Conversei com ele. Aguardando a visita médica, estendi o meu olhar pelo contexto, enfermagem, outros leitos...

Pensei: “Ah... Não pode ser... Quem está esticado ali no leito ao lado?! Nossa! É o Michel Temer! O Presidente! Ué, já voltou da Noruega?! Nenhum familiar para visitá-lo... Que estranho... Já que não tem ninguém, que seja eu mesmo! Já que ele não vai até o povo brasileiro, alguém do povo vai até ele...”

- Acorda, Presidente!

- Humm...

Ele abre os olhos, rebobina a memória e tenta reconhecer-me entre seus familiares, políticos da base aliada e amigos... Sem êxito, pergunta:

- Quem é você?

- Sou um brasileiro, familiar do enfermo ao lado. Brasileiro também... O Anastácio, meu primo... O coração dele baqueou...

- O meu também...

- Também! Haja!!! Seu mundo desabou por completo depois daquela gravação com o Joesley Batista em 17 de maio!

- Isso é o que você pensa... Nada nos destruirá. Nem a mim nem aos meus ministros...

- Não é tão fácil assim, Presidente... Oito de seus ministros já estão sob a lupa da Justiça. E um monte de coisas aconteceram nos últimos dias – o suficiente para colocar o seu governo numa perspectiva mais sombria do que essa UTI...

- Você diz... o cemitério...

- É o senhor que está dizendo...

- O que foi dessa vez?

- O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin acolheu a denúncia da Procuradoria Geral da República contra o senhor pelo crime de corrupção passiva e já enviou-a para a Câmara dos Deputados. Só 7% da população brasileira apoia o senhor na presidência da República. A Polícia Federal declarou a gravação do Joesley com senhor como prova válida judicialmente. O juiz não acatou seu pedido para processar Joesley Batista por calúnia e difamação. A oposição impediu que seu projeto de reforma trabalhista fosse aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Os Estados Unidos suspenderam a importação de carne bovina brasileira. O ministro do Meio Ambiente da Noruega diminuiu pela metade a ajuda de seu país para a preservação da Amazônia enquanto o governo não controlar o desmatamento na região. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a sua renúncia imediata e convocação de eleições diretas. O Renan Calheiros decretou a perda de credibilidade, inviabilidade e morte de seu governo. Seu ex-assessor e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures...

- Tá! Chega! Chega! Você quer me matar? Quer dizer que o meu governo morreu? Chuiff... Buááá...

Interrompe-me e começa a chorar. Ouço por um tempo aquele choro inconsolável, tentando solidarizar-me com alguém que, durante um ano, gerou tudo isso que nos faz sofrer... Mas como não tenho sangue de barata, voltei à carga!

- O senhor está chorando por quem, Presidente? Pelos brasileiros? Pelo seu governo? Por si mesmo? Ou pelo seu futuro?

- Eu não sei...

- Ichh... O senhor está desarvorado... Bah... Aquela árvore que já não percebe sua posição na floresta... Perdeu a noção de tudo! Será a depressão mental galopante?

- Chuiff... Buáá... Buáá... Buáá...

- Evita Perón num discurso emocionante – depois transformado na famosa canção “No llores por mí, Argentina!” –, em 1946, logo após a vitória de seu marido Juan Domingo Perón nas eleições presidenciais da Argentina pediu, na sacada da Casa Rosada, que o povo pobre que a escutava e aclamava não chorasse por ela por estar passando da condição de mulher simples, pobre à condição de Primeira Dama solicitada continuamente pelo castigo de um protocolo cerimonial. Era um choro de exaltação da honra, da saudade... Bem o extremo oposto do seu caso, Presidente... Por favor! Seja um brasileiro como nós! Não busque influência política, nem tente governar mais ninguém... Depois da alta hospitalar, volte para casa! Uma vida cotidiana e nada mais... Os fatos não conspiraram contra o senhor, eles o revelaram... Renda-se! Sua vida moral veio abaixo naquele 17 de maio com aquela gravação! Comprar silêncio de criminoso?! Isso é obstrução da justiça, Presidente! O senhor não se envergonhou, apresentou uma cara de estátua de cera para nós e saiu procurando uma saída de fachada que não existe... No entanto, a Justiça devagarinho o alcançou e vai destituí-lo inevitavelmente mais cedo ou mais tarde... O seu momento de demonstrar elegância também já passou... De arrepender-se, de pedir desculpas... Espere! Tenho uma notícia boa!

- Ufa! Pelo menos uma!

Diz, choramingando, o presidente ávido como quem chega num oásis após várias horas de caminhada no deserto.

- A Medicina é magnânima! Restituirá sua saúde, proporcionando-lhe uma alta hospitalar dentro de poucos dias como faz com todos os enfermos indistintamente. Mas o seu choro rastejará no tempo, corroendo sua consciência...

Miguel Wetternick
Enviado por Miguel Wetternick em 29/06/2017
Reeditado em 28/05/2019
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