CONFUSÕES DA ALMA

Já não escuta aquelas vozes... Não há cartas... Não há palavras... Não há ninguém, tampouco precisa de alguém... Dança em silêncio... Olhos fechados... A criação divina, matéria metafísica alimentando-se de atitudes tão orgânicas, tão humanas... Tão habituado, preso em pequenos desesperos... uma agonia perspicaz... Ele só está um pouco confuso... Estranhando-se corriqueiramente... Deixem-no descansar entre sub-mundos íntimos... Estrelas acessíveis... Chuvas de meteoritos... Jardins conterrâneos, rosas estrangeiras... Ela não se deixou florescer...

— Você tem noção do quanto isso é destrutivo? Sabe... Às vezes penso em deixar tudo isso de lado e seguir sozinho, sempre fiz isso, mas, logo em seguida, me vem a sensação esperançosa de que estou certo, e que, qualquer ideia de ir embora é passageira... Assim como naqueles filmes de luta, onde o personagem principal se dá mal o tempo inteiro, leva uma surra no final, cai... E ainda no chão, fica observando as coisas ao redor, até que, do nada, ele levanta, derrota o vilão e o filme segue o clichê incansável de finais felizes. Haa... Finais felizes são tão artificiais, odeio essas felicidades premeditadas!

— O amor é cruel, ele te faz buscar respostas para questões inexplicáveis. E quando você pensa saber tudo sobre tudo, ele te leva a lugares ainda mais confusos... Sentir é algo maravilhoso, mas, nem sempre é necessário. Se não houver controle sobre as dúvidas, as nossas dúvidas, não se deve procurar, ou se aproximar de outras, outros seres... Outros desconhecidos, estranhas existências, programadas para se desprogramarem em argumentos rasos... Somos tão vulneráveis a palavras bonitas. Às vezes, tudo que temos são palavras, ainda que, tudo que precisamos esteja muito longe de ser apenas aquilo que as palavras conseguem definir... Eu não nunca sei como conquistar alguém, algumas pessoas não tem muito o que oferecer... E, sinceramente, são pessoas assim que nos fazem querer sempre mais, é extremamente corrosivo o modo que usamos para gostar de alguém... É sempre a mesma história... Idealizamos, acreditamos, tentamos... Nos afastamos, fechamos os olhos... Esperando que quando abrirmos, ainda haja alguém por perto...

— Só preciso ficar um pouco sozinho, escutar alguma música calma... Esquecer as palavras que ouvi, as que esperei, as que insisto em criar... Coisas que sei que nunca vão acontecer, paradigmas de uma vida perfeita, a arte de se esperar flores quando tudo é Outono... Quando o imperfeito já é o suficiente, quando o amor é só uma teoria irrefutável que nos faz acreditar que a vida, por mais breve que seja, ainda é tudo que temos para enfrentar a eternidade, a verdade absoluta que dá forma a melodia de tudo que dança em silêncio, passos sincronizados em escuridão total... O sonho bonito que deixamos escapar pelo vício de se construir realidades frágeis, matéria reciclada de escombros mentais, restos diários cultuados em noites de insônia...

— Silêncio... Deixe-no enlouquecer em paz...

E quando amanhece, ele alimenta os pássaros, caminha até o rio, molha os pés e volta para casa. Não há muito o que se fazer, não há o que se fazer por ele... Cabelos soltos, estabilizados a instabilidade do vento... Já não suporta a velocidade dos próprios pensamentos, a maldição de uma consciência ilimitada desenhando novos infinitos... As nuvens perdem o sentido, alinham-se vagarosamente, de repente, o Sol parece nunca ter existido... E o céu, cada vez mais baixo... Cuidadosamente abre caminho, acomoda-se... Se senta entre as flores de um jardim caseiro... Fecha os olhos e espera a chuva cair... Seu corpo, já desconexo de realidade, flutua em ventos suaves... Rodeado por aspirais de pétalas coloridas... Sua mente, entorpecida de pequenas doses de pensamentos indecifráveis, absorve nevoeiros de psicoses antigas, matéria infinitamente densa acoplada em uma fina camada de pele surrada, explode... Novos universos se formam, estrelas arrependidas de existência desfragmentam-se em gigantes cortinas de luz... Vestido de faíscas azuis... Rasga o Universo em velocidade infinita, números impossíveis, resultados jamais encontrados... Eventos interplanetários imprevisíveis em constante acontecimento... Já não existe tempo... Atinge os muros da ultima fronteira... A explosão, as luzes... Uma nova nebulosa de pétalas escorre pelas grades do universo... Abre os olhos... Úmidos... A chuva timidamente escorre entre seus restos, presenteia a angustia que sente com uma lágrima cansada, composta de tristezas virgens e lembranças antigas...

Ele não se deixou florescer...

Ainda Menina Mar
Enviado por Ainda Menina Mar em 13/02/2018
Código do texto: T6253037
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