Contradições

No curso da história sempre que a natureza provocava uma ação ou atitude, a humanidade reagia de alguma maneira, fosse ela bem sucedida ou um tremendo fiasco. A reação dos seres humanos às forças da natureza e a possibilidade de corrigir o rumo dos erros na geração sucessiva é a razão do sucesso da dominância da raça humana em todos os ecossistemas do planeta, mesmo com a crença absoluta de que, a longo prazo, toda a reação humana tende a ser desastrosa para a natureza. Isso porque, toda e qualquer ação consciente e benéfica desfechada por alguém sempre sai da causa coletiva e passa a ser uma causa individual. Afinal, é inata a concepção de sermos todos gregários e ao mesmo tempo, egoístas. Buda se referiu a isso de modo indireto ao pregar que “a origem de todo o sofrimento são os desejos”. Outras visões mais modernas revelam melhorias ou perdas da parte individual afetando significativamente o todo, pois, em longo prazo, os estímulos pessoais impactam o coletivo: desde a filosofia dialética, na qual a história se move por contradições, até a escola comportamental, em que o motor da história são os espasmos conflitantes de necessidades de poder ou da volúpia entre os governantes. Há quem diga que a maioria das guerras tem origem num triângulo amoroso entre reis, rainhas e amantes de ambos. Não é a toa que eunucos, clérigos e celibatários sempre tiveram importância nos círculos próximos às cabeças coroadas. Neste contexto, existem defensores do novo ser humano como um provocador ecológico, não mais como um ser provocado pelo meio ambiente em que vive. Este novo ser humano é um provocador emocional e não é mais vítima, mesmo sendo esta a sua busca. Este desejo não mais tão oculto, conhecido como autovitimização, revela querer a partilha de dores e dissabores, principalmente para dar intimidade aos grupos de pessoas de seus relacionamentos e reforçar vínculos. “O mineiro só é solidário no câncer”,dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues, atribuindo a curiosa frase ao jornalista Otto Lara Rezende. Ser vítima hoje é fazer com que os problemas pessoais ou egocêntricos ocupem um lugar de destaque na vida das pessoas de contato. Um exemplo dessa ideia é um acidente com sequelas. Ele ocupa um lugar eterno na vida de quem o sofreu e de todos aqueles que se aproximam dele ou ousam fazer uma simples pergunta “Tudo bem com você ?”. Outro aspecto deste novo ser humano é portar-se como um provocador comportamental ao ter plena consciência dos contrários. Quando alguém fica sadio é porque precisou antes estar doente, assim como para ficar feliz precisava trafegar pelos lampejos de infelicidade. Às vezes, na vida, a atitude de perder é uma decisão de ganhar, sentir frio é valorizar o quente e o nascer de alguma coisa é o início de alguma morte. O novo ser humano é ainda um provocador social em franca recuperação de seu lugar no mundo, mesmo que de um mundo meramente virtual que se impõe ao mundo real. Seu papel ativo hoje nas redes sociais (Facebook, twitter, ... sacode a vida real. Nestas novas mídias, os indivíduos investem em si próprios e nos outros. Criam assim uma nova postura grupal, a chamada inteligência coletiva. Atualmente, o que foi irreal subsiste em iguais condições com o que é real, na previsão contida na frase de Raul Seixas, “Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. O contato com a realidade é o viver o presente. Já a questão de ser provocador e não mais provocado é de ser agente ativo, ao invés de adotar a passividade. É uma atitude válida de sair do lugar comum para se tornar um elo recalcitrante na corrente da vida. Bem-vindos todos os que encaram essa verdade!