Uma quase vitória

Minha história se inicia num domingo, numa tarde ensolarada, quente e tediosa, sem nada para fazer ou ver nas redes de televisão. Então, comecei a divagar nos pensamentos de como poderia ser mais útil, ajudar pessoas que tenham algo a dizer e não têm um canal ou forma de divulgar seus anseios, idéias ou propostas. Como num lampejo, claro e nítido como o sol daquela tarde, lembrei–me que poderia me candidatar a ser representante dos que pensam igual a mim. Como não sou muito conhecido na grande cidade, principalmente na parte periférica, iniciei minha campanha “corpo a corpo” com os colegas de escola, clientes e parentes, onde fui incentivado e apoiado para continuar a angariar votos na eleição livre e democrática que iria acontecer em breve. Arrumei uma vaga num partido, que apesar de não ser comunista, tinha fortes laços populistas.

Ansioso pelo resultado e já na reta final de campanha, virei um chato e inconveniente. Minha abordagem aos eleitores conhecidos ou não insistia na minha indicação na brevidade do voto, às vezes sendo até indelicado, esperando na hora dessa interação que a pessoa manifestasse de imediato a confirmação da escolha de meu nome. A impressão que eu passava era a de ser o melhor e mais qualificado futuro representante. Como eu trabalhava naquela época na madrugada na atividade de entregar pães de minha padaria nas casas dos clientes, desenvolvi uma ação casada de embrulhar junto os meus folhetos promocionais da campanha eleitoral, aliás, muito bem escritos e roteirizados. Tenho que reconhecer que o método utilizado não foi nada sutil, porém a surpresa surgiu na comunicação do resultado no dia seguinte às eleições. Tive uma excelente votação e, por apenas dois votos de diferença do último eleito à vereador no meu partido, também um novato que vinte anos depois se tornaria o prefeito, perdi a eleição!

Aguardando ansiosamente o desenrolar do restante do processo, virei um ente recalcitrante na comunidade, por continuar a crer na máxima de que "querer é poder". Criei um jornal por entender que nós precisamos uns dos outros para ser felizes. Somos uma espécie gregária. Precisamos ser úteis aos outros, a todo momento. É a lógica da política. Também precisamos de pessoas que pensem diferente, que sintam diferente, que ajam diferente, porque é a soma das diferenças que produz a verdadeira grandeza. Um jornal hebdomadário fez este papel, tornando-se minha plataforma e partido político. Criei um receituário, uma razão de ser para mim e para o meio de expressão escolhido, descrito nos parágrafos seguintes.

Precisamos trocar experiências, discutir idéias, concordar e discordar. É essa dinâmica da vida que nos dá motivos para viver e realmente crescer. A amizade é o sentimento que une as almas umas às outras, formando uma só, cuja cola se integra com o tempo ao papel, gerando alegria e bem-estar ao realizar o desejo de fazer alguma obra em comum. Por isso as amizades são essenciais, são incentivo e estímulo para o nosso progresso ou supremacia.

A felicidade de servir é uma propriedade do espírito, mas só é conquistada na vida de relação com o próximo. Sem o inter-relacionamento pessoal seríamos ilhas isoladas, sem que a vida nos atribuisse o sentido de coletividade. Aí sim as formigas e as abelhas nos superariam como espécies mais evoluidas, pois em outros aspectos já os são.

Podemos afirmar, então, que a felicidade é uma conquista social e servir ao próximo é um sustentáculo de inúmeráveis organizações.

Por tudo isso, vale a pena pensar na importância das pessoas em nossa vida, por mais problemáticas que elas sejam, por menos amor que troquem conosco. São elas que dão significado à vida e nos permitem a felicidade de servir.

Você já se deu conta da importância dos amigos em suas vida? A amizade é como chuva fina e constante. Cai de mansinho e penetra o solo ressecado das almas, formando largos lençóis de água cristalina nas profundezas do ser, alimentando-o e matando sua sede. É compreender a loógica do "porque era ele, porque era eu", criada por Montaigne ao resumir uma amizade verdadeira.

Agora me encontro mais experiente e preparado para continuar a bem representar as pessoas de bem. Encontro-me sintonizado e tenho a certeza de que continuaremos a avançar na busca de melhorias, tanto quanto no relacionamento sadio entre os entes próximos e distantes. Se você ainda não tinha se dado conta desses pequenos detalhes, comece agora e perceberá que quem tem amigos verdadeiros é possuidor de um valiosíssimo e raro tesouro.

E, acima de tudo, busque ser um verdadeiro amigo e não apenas tê-los a sua disposição para pedir algo.