SOBRE AFETO ESSENCIAL

Perdi longo tempo de minha vida relutando em abrir a mente para conseguir aceitar o oposto. Entender o diferente. Não apenas tolerar, mas querer bem o indivíduo, fosse qual fosse a sua escolha, orientação ou gênero, etnia, condição social, síndrome, limitação ou transtorno, bastando apenas ter bom caráter. Não ser mau; desonesto; malicioso; sem limite.

Como era pessoa muito esturrona, difícil, desconfiada em excesso, levei décadas para me tornar menos pior nesse aspecto. Ser menos armado e ter boa vontade; julgar menos e conhecer mais; ficar menos preconceituoso. Até porque, sempre tive hábitos e manias particulares que, mesmo inofensivas aos outros, me tornariam alvo de julgamento e preconceito. Bastaria que a ciência dos mesmos avançasse o grupo restrito e seleto de pessoas com quem posso, em qualquer momento, ser totalmente quem sou. Com quem troco a confiança irrestrita que não cabe nas relações banais.

Quanto a ser melhor com os outros, aceitar e querer bem o diferente ou oposto, enquanto busquei abrir a mente não consegui fazê-lo. Afinal, não é só questão de abrir a mente, pois ela não é o campo do afeto e da compreensão humana. Ser leitor, intelectual, consciente, não basta nem interfere no essencial... no definitivo.

Para me tornar menos pior, foi necessário abrir o coração.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 18/04/2018
Reeditado em 18/04/2018
Código do texto: T6311928
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