Festa de Rico...Festa de Pobre

 

São imensamente variadas as filosofias de vida - e comportamentos decorrentes - que se revelam no gênero humano. Aqui faço menção apenas a duas categorias opostas, mas que, além de terem origem em diferentes experiências vividas e em estados de consciência diferenciados, são também determinantes dos aprendizados que cada uma destas perspectivas sobre o sentido da vida pode ensejar.

Na primeira categoria estão as pessoas que assumem a vida como uma festa de rico. Na segunda, as que a reconhecem como uma festa de pobre.

 

Os da primeira categoria passam boa parte da vida preparando a festa: salão de alto luxo, adornos que encantam os olhos, aperitivos, entradas, pratos quentes e sobremesas. Bebidas de todos os tipos, à vontade. (UMA VIDA DE SUCESSO MATERIAL)

 

A expectativa é que venham muitos convidados, todos ocupando as mesas amplas que circundam todo o enorme salão ao fundo do qual se vislumbra o palco onde se apresentará a banda mais famosa da cidade. Mas o amplo espaço, as instalações suntuosas e o serviço de bufe foram previstos para dar conta de todos os comensais. (AS AMBIÇÕES SÃO GRANDES, MAS PODER COMPETITIVO FOI ESTRATEGICAMENTE PLANEJADO)

 

As pessoas vão chegando, a banda começa a tocar; as enormes bandejas de doces e salgados transbordam; os anfitriões vão recebendo com orgulho e amabilidade cada convidado recém-chegado. Agora a altura do som, martelando o tímpano indefeso dos convidados, não permite mais conversas pessoais. As pessoas dançam e riem; a bebida, abundante, dá o tom do clima. O requinte e a elegância da postura e dos trajes dá lugar à descompostura, no embalo etílico do ritmo alucinante dos mega alto-falantes. Sapatos, gravatas, paletós e outras peças de indumentária sucumbem ao desamparo de seus manequins. (O PROGRESSO MATERIAL SE CONSOLIDA E, PARA MANTER-SE, É PRECISO FAZER ALGUMAS CONCESSÕES À ÉTICA)

 

Muitos convidados trazem “sub-convidados” que são logo apresentados aos anfitriões com certo constrangimento. Outros ainda, embora não convidados, atraídos pela suntuosidade da festa entram como “penetras”. Mas, o que são algumas pessoas a mais para quem dá uma festa para algumas centenas?

(GASTOS ALÉM DO PLANEJADO E DAS POSSIBILIDADES, MAS POR QUE PRIVAR-SE DAS COISAS BOAS DA VIDA, DEPOIS DE TANTO SACRIFÍCIO?).

 

Mas a Os anfitriões, que planejaram a festa com muita pompa, mas pouca folga, começam a sentir a preocupação abater-se: “acho que vai faltar salmão”... “não sei se o vinho vai dar pra todo mundo”... “as crianças estão pegando os docinhos aos punhados”... O pânico (ESTRESSE, PREOCUPAÇÕES, DOENÇAS, DESENTENDIMENTOS FAMILIARES) começa a pairar no ambiente.

 

Em meio a essa situação, mas em hora ainda prematura, o primeiro convidado se despede: “tudo perfeito... linda festa... Parabéns! Se incomoda se eu levar uma bandejinha pra minha vó?” (“MEU AMIGO, VOCÊ ESTÁ MUITO BEM DE VIDA, SE IMPORTA DE ME SOCORRER COM ALGUM RECURSO?”) A resposta impulsiva do anfitrião é consequência do seu estado de pânico; não o fosse, ela não seria tão grosseira para o convidado retirante que já observara a exuberante quantidade de quitutes sobre as mesas: “ah... desculpe...é que não sabemos se vai dar pra todo mundo” (COMO VOU AJUDÁ-LO A CUIDAR DA SUA VIDA SE MAL POSSO CUIDAR DA MINHA? TRABALHO QUINZE HORAS POR DIA, ESTOU CHEIO DE DÍVIDAS, TENHO UMA DESPESA ALTÍSSIMA E NEM SEI SE VOU CONSEGUIR PAGAR TODAS AS PARCELAS DOS FINANCIAMENTOS QUE ASSUMI!) – diz o anfitrião sem esconder em seus trejeitos e em seu semblante o reconhecimento da “saia justa” em que se meteu. O convidado sorri polidamente e se retira para, no dia seguinte, avaliar que não pode mais reconhecer o dono da festa como seu verdadeiro amigo (OS AMIGOS VERDADEIROS E PARENTES COMEÇAM A PERCEBER QUE ESTÃO SENDO ISOLADOS).

 

Já em hora avançada, a festa por fim termina (CHEGA A IDADE SENIL). São poucos os convidados que ainda restam, só os mais chegados (MUITOS AMIGOS E PARENTES JÁ MORRERAM OU NÃO MAIS ESTÃO EM NOSSAS VIDAS; NOSSAS FANTASIAS VIRARAM FRUSTRAÇÕES OU DECEPÇÕES), que já se levantam despedindo-se uns dos outros. O anfitrião olha as bandejas quase vazias (O POUCO PATRIMÔNIO QUE AINDA NÃO FOI TOTALMENTE DESPERDIÇADO OU PERDIDO EM AVENTURAS), mas exibindo ainda conteúdos em quantidade suficiente para indicar que, felizmente, não faltou para ninguém (ELE CONSEGUIU EDUCAR OS FILHOS NAS MELHORES ESCOLAS, DAR CONFORTO E LAZER À FAMÍLIA, VIVER HONRADAMENTE E AINDA SOBROU UMA GRANA RAZOÁVEL PARA VIVER O RESTO DA VIDA. CONFORTAVELMENTE)!

 

“Amor”, ele pede à esposa, “prepara aí umas bandejinhas para o pessoal levar. É muito, só pra nós..." (COM SEU FUTURO ASSEGURADO, PODERÁ AGORA DISTRIBUIR ALGUMAS MIGALHAS, COMO PROVA DE SEU DESPRENDIMENTO E COMO PROPINA PARA O PORTEIRO DO CÉU).

 

Aí, já na avançada madrugada, a sós, se dá conta: “meu Deus... por que só agora, no fim da festa consigo repartir com os outros e, ainda assim, só o excesso? Por que decepcionei tantas pessoas importantes para mim por medo de faltar o que comer? Por que abri mão de tantos amigos por querer guardar para um futuro que não poderia prever e sobre o qual nunca tive controle? Será que a pompa e a “imagem” da minha festa são mais importantes que o que ela poderia ter oferecido de amor, solidariedade e aconchego?”

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Para os que enxergam a vida como uma festa de pobre - mesmo que sejam ricos - a festa da vida não tem convidados, a porta está sempre aberta, é festa o tempo todo. Entra quem trouxer amor. Se tiver para todos comerem, todos comem; se não tiver, todos repartem.

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BENDITO SEJAM OS POBRES DE(i) ESPÍRITO; DELES SERÁ O REINO DOS CÉUS”.

 

(i)por espíritomesmo que sejam ricos de posses)

 

Sermão da Montanha