O Ensino Fundamental se chamava " Primário", e a escola "Grupo Escolar", pois funcionava somente até a quinta série, que chamávamos de "quinto ano primário". Foi nessa época que eu aprendi a desenvolver a escrita e o conhecimento, nos anos sessenta.
           As crianças não tinham quase nada nas escolas públicas, o Estado provia apenas o estudo, mas se ensinava de verdade, saia-se do "Grupo " sabendo as operações matemáticas, com conhecimento em equações, uma gramática bem fundamentada, conhecimentos gerais, leitura e boa caligrafia. Posso afirmar sem medo, pronto para mais tarde  trabalhar e ter uma família.
           Éramos todos filhos de operários, pais que se desdobravam para comprar os materiais e o uniformes, o Estado , como disse, não supria , a não ser que a criança fosse comprovadamente "paupérrima", então era classificada como " aluno da caixa escolar".
           Nem na Caixa Escolar os governos ajudavam muito, esse fundo vinha dos próprios pais e da iniciativa privada, me lembro que a "Matarazzo" distribuía lápis e cadernos amarelos, com a propaganda da Maizena na capa e o hino nacional na contra capa.
           Apesar de tudo, aprendíamos de verdade, os livros didáticos íam até a última página, aprendia-se por inteiro, as lições de casa eram pesadas, não havia o "mamãe me dói", que hoje chamam de "mimimi", e quando não completávamos a lição , levávamos um pito "daqueles" de humilhar , em plena sala de aula.
           Os livros usados e em boas condições , migravam para a "Caixa", serviriam aos alunos mais pobres.
           Nunca fomos da Caixa Escolar, mas por muito pouco, graças ao orgulho dos meus pais, que evitam chegar a esse ponto, para eles poder nos dar o mínimo era uma questão de prioridade máxima, mas era tudo do mais simples que havia, nem lancheira tínhamos, o lanche ia embrulhado em um guardanapo de pano com um nó, na mala , junto com os cadernos, os estojos de lata  da "Dois Martelos" (Johann Faber) . As mochilas não existiam naquele tempo, eram coisas de soldados ou alpinistas, rssss...
           Hoje, as crianças tem tudo, até tênis vem do Estado, lanches ( merendas), materias escolares bons, e além de aprenderem muito pouco ( não por culpa dos professores) , reclamam de tudo . Outro dia uma amiga , que é professora na administração,  veio em casa e comentou que precisavam de professores de espanhol na rede pública, e que os livros da matéria estavam nas caixas havia meses, tomando poeira na Repartição.  Estou com 64 anos, se fosse em outros tempos, talvez...hoje, teria um infarto , rsrsss...!

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 03/08/2018
Reeditado em 03/08/2018
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