A Lição de Casa.

Me refiro a "lição de casa" mesmo, a que recebíamos da professora quando éramos crianças.

Lembro-me bem, não gostava nem um pouco; copiar , copiar e copiar ..."n" vezes a mesma frase até a última linha. Começava bonitinho, daqui a pouco o saco já ia se enchendo, e as últimas linhas saiam pela hora da morte.

Quatro problemas chatos "pacas", que sempre começava pelos mais fáceis, pra tirar logo da frente, e o último ficava pra depois, na bacia das almas.

A parte gramatical até que eu gostava ; sinônimos, antônimos, ditongos, paroxítonas, plural e etc. entendia fácil, então já resolvia rápido. A pressa era sempre a mesma, jogar bola no campinho.

A letra saia legal só no começo e nos dias de chuva, quando a bola não rolava , a minha mãe não ficava olhando cadernos e só às vezes me perguntava se havia feito a lição, então navegava de acordo com o vento. O meu pai não perguntava muito, mas às vezes ele cismava e o bicho pegava feio, o coração vinha à boca, pois sabia que levaria um pito pela falta de qualidade.

Se a professora fosse legal comigo, pronto...fazia de tudo para não decepcioná-la, então percebi com isso que a qualidade também dependia da receptividade.

Por essa época , lá pelos dez anos, um aluno apenas razoável, percebi que gostava de ler e escrever, aquilo mexia comigo de alguma forma, e as notas de redação eram melhores do que as outras. Também me saia bem com as conjugações e os seus tempos verbais, o que ajudava bastante. Me lembro que tive uma redação premiada, escolhida para ser enviada à Secretaria de Educação, não sem antes reescrever com a melhor caligrafia que pudesse.

Aprendi a ler antes de escrever, não sei porque ?! O processo não foi muito simultâneo. Foi lá pelos quatro ou cinco anos, quando peguei o cancioneiro da minha mãe e comecei a cantar. Ela me olhou e imaginou que houvesse decorado as letras de tanto ouvi-la cantar , então me deu outra coisa para ler, e se surpreendeu, e ainda mais porque ainda não sabia escrever direito, estava conhecendo as letras e algumas saiam espelhadas ( invertidas).

Estudar pra valer mesmo, foi do colégio para a faculdade, quando comecei a pegar gosto em aprender, mesmo sem largar o futebol totalmente, tudo ao seu tempo.

Quando estava no quarto ano de Letras , aproveitei para fazer um curso sobre alfabetização, eu já contei isso uma vez, pois queria entender o início de um aprendizado sob direcionamento, o que é diferente dos demais processos de aprendizagem que se recebe.

Ensinar, não existe, acreditem...ninguém ensina , só se aprende . Aquele que diz; " Eu ensinei, mas você não aprendeu !", é porque não ensinou. O ensinamento só acontece no aprendizado, é quando o círculo se fecha.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 27/08/2018
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