Elvis e Elis, nunca me tocaram...

...por isso nunca os toquei ! Não posso dizer que me deixo guiar, porque os meus pais gostavam e ouviam Elis Regina, mas ela nunca me entusiasmou musicalmente, também a considerava um tanto "mascarada" , mas isso não seria o suficiente para não gostar dela, pois outros também eram, e a gente cantava junto.

Muita técnica vocal, muita intensidade na interpretação, mas cantava alto , que pra mim soava meio gritado, não convidava as pessoas a cantar junto, como outros fazem através da música. Era um popular pouco popular, eu não sentia que o povo se identificava com ela, parecia passar longe dos problemas que ocorriam na época.

Elis, uma gauchinha mal humorada, não dividia espaços com concorrentes, mandava fazer e desfazer ; " Tirem ela daqui senão vou embora !", que o diga a cantora Cláudia ... Depois as altas rodas regadas a uísque importado e outras tranqueiras , daquelas que dão medo. Por vezes tentava por os pés no chão, voltar a ser a garota que veio tentar a carreira no Rio, mas essa, já não existia mais, ficara pelo caminho há muito tempo - Faltava humildade onde sobrava talento, uma triste combinação !

Quanto ao Elvis, não ouço porque não me diz nada, se está tocando é porque alguém o escolheu, ouço com respeito, e só. Em casa tem alguns CD dele, mas são da minha mulher, por mim ficariam pegando poeira na estante para sempre.

Às vezes vou à casa de um amigo dos velhos tempos, e ele adora o Elvis, tem um retrato na parede e até se emociona ao falar do ídolo , o chama de " O Deus", como uma forma de separá-lo do mundo comum, onde estão todos os demais. Não faço críticas, até porque não merece, ouço com respeito sem nada dizer.

Para mim, Elvis tinha uma bela voz, uma performance diferente nas apresentações , um estilo todo próprio , uma marca , o que fazia dele um artista de palco, mas sempre achei as canções sem conteúdo, bastante comerciais, as chamadas "vendáveis", o que demonstrava que era uma máquina de fazer " money", e a arte para mim deve ser muito mais que isso.

Como pessoa deixava a desejar, tocava um violão razoável mas nunca fez uma única composição, preferia as que já estavam feitas, e quando os Beatles foram visitá-lo em Memphis, porque o amavam , era um ídolo para eles, se decepcionaram, encontraram um homem desatento, que os olhou de cima para baixo, enfastiado com a visita, tocaram um par de canções só para dizer que "tocamos juntos", mas aquela magia foi se desfazendo pouco a pouco. Nunca disseram nada à respeito, mas a decepção estava estampada.

Prefiro até cantores que nem sejam tão bons, mas que me toquem quando os ouço cantar, que me digam algo, que sejam como eu gostaria que fossem.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 11/09/2018
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