Insônia? É isso aí



     1. Na última madrugada, uma torturante insônia expulsou-me do berço, sem dó nem piedade. Oh! Como sofri! De repente me vi vagando em plena madruga, escura e sussurrante. Chovia à beça!
     2. Nuvens carrancudas escondiam a lua, que era cheia. Sabia do plenilúnio porque consultara a folhinha colorida que, entre outras coisas, me dá as fases da lua e o meu horóscopo, no qual pouco acredito.
     3. Resolvi ler. Lembrei-me do último livro que comprara na "Saraiva". Mas "O mundo como eu vejo", do professor Leandro Karnal, não era a leitura mais indicada para uma noite de insônia. Tinha que ser um livro de páginas leves. 
     4. Três livros de Chico Xavier pelo Espírito Humberto de Campos - "Crônicas de Além-túmulo", "Boa Nova" e "Pontos e Contos" - estavam à minha disposição. Leitura deliciosa. Retornaria a um dos cronistas de minha preferência, morto em 5  de dezembro de 1934. 
     5. Optei por "Crônicas de Além-túmulo". Li algumas páginas. Mas nem a leitura de textos do Irmão X, pseudônimo do Espírito de Humberto de Campos, fizeram-me, pelo menos, cochilar. Continuei serelepe. 
     6. Pus os olhos, já cansados, na minha estante de livros religiosos. Com a ajuda do céu, de repente, conseguiria pegar no sono. Abri o livro do jornalista Rodrigo Alvarez, "Jesus - O homem mais amado da História". Fantástico!
     7. Detive-me no capítulo que fala de Maria, filha de um pequeno vilarejo chamado Magdala. Daí, Maria de Magdala, identificada pelos biblistas como Maria Madalena, o amor do Rabino de Nazaré. Li, degustando, o capítulo intitulado "A mulher ao lado de Jesus".
     8. Registro, porque interessante, o que diz Rodrigo Alvarez sobre Madalena: "Não fosse um machismo persistente, seria certamente merecedora do honrado título de apóstola, como de certa forma o fará (e fez) o papa Francisco, ao reconhecê-la como apóstola dos apóstolos".
     9. O belíssimo livro sobre a vida do Mestre, nem ele, me trouxe o sono desejado. Permaneci aceso!
     Aí me veio a ideia de ler poesia. Sem olhar para a estante onde estão meus vates preferidos, saquei o que estava mais próximo: Álvares de Azevedo (1831-1852) - "Lira dos vinte anos".
     10. Abri numa página qualquer. Nela encontrei um dos seus mais ternos poemas, "O lenço dela"; que a seguir transcrevo, na íntegra.
          "Quando a primeira vez, da minha terra
          Deixei as noites de amoroso encanto,
          A minha doce amante suspirando
          Volveu-me os olhos úmidos de pranto.
Um romance cantou de despedida,
Mas a saudade amortecia o canto!
Lágrimas enxugou nos olhos belos...
E deu-me o lenço que molhava o pranto.
          Quantos anos contudo já passaram!
          Não ouvido porém amor tão santo!
          Guardo ainda num cofre perfumado
          O lenço dela que molhava o pranto...
Nunca mais a encontrei  na minha vida,
Eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!
Oh! quando em morra estendam no meu rosto/ O lenço que eu banhei também de pranto!"
     11. Não é que, quase dormindo, terminei de ler os versos de Álvares de Azevedo!      Acordei disposto e pronto pra lhe contar esta história, meu dileto leitor, aconselhando-o a ler poesia, nas noites de insônia... É isso aí!
          
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/10/2018
Reeditado em 03/11/2020
Código do texto: T6489918
Classificação de conteúdo: seguro