O povo tem seu próprio falar.

Vou falar de um costume da minha terra ( Espanha), coisa de antes do Euro, quando a moeda nacional era a "peseta" ( pequeno peso), em razão das moedas à princípio terem relação direta com o peso que tinham, e com o material empregado na cunhagem ; prata, bronze, cobre e etc.

O povo chamava as moedas de " perra" ( cachorra), e nem me perguntem porque, pois é coisa que nasce pelo becos , cais e esquinas da vida e entram nas casas.

Os mendigos te pediam " una perra" , quando queriam um trocado, e normalmente eles ficavam sentados no chão, ou nas escadarias das igrejas, com um chapéu ao lado. Não te tocavam nem era comum contarem um rosário de penas, só olhavam com pesar e pediam a tal da "perra".

Quando estive lá, o costume não havia mudado muito entre os mais velhos, e um mendigo me pediu "una perra", que coloquei no chapéu que o seu obediente cão segurava pela boca, e lhe disse; " Esta perra és para su perra, no para usted ", e ele me respondeu; " Ella lo sabe, y te lo agradece ". Alguns te pedem " una limosna", que é " esmola" em espanhol, mas não é comum.

O povo espanhol é muito religioso , ainda mais o do meu tempo, e se compadeciam pelos mais humildes, sendo quase uma obrigação cristã reservar algumas " perras" para os mais necessitados e para os religiosos; frades e freiras dos conventos. Eram moedas de baixo valor, de centavos, mas de grão em grão...e todos ajudavam.

Era engraçado os nomes que davam as tais moedas ; " perra chica" ( cadelinha) para a de 5 centavos, "perra gorda" ( cachorrona) para a de 10 centavos, fora isso tinha o real ( que tinha um furo no meio) , a peseta , chamada de " perra rubia" ( cachorra loira) por ser de cobre, acima disso tinha uma grandona de prata, chamada de "duro", que em galego significa " peso".

As cédulas eram para o mercado, pagar as contas e coisas assim, na Europa em geral há muito troco miúdo, muitas moedas, e é o que gira nos cafés e pelas ruas para um churros , um hábito. Comprar cigarros ou jornais são práticas que as pessoas fazem sozinhas, não há vendedores, deixam a moeda e pegam o jornal , como nas máquinas de refrigerantes.

Os bares e lojas estão sempre lotados de moedas , ninguém torce o nariz por falta de troco, isso não existe.

Quando precisei trocar uma nota graúda de Euro, entrei num Banco Santander e me olharam com desconfiança, viraram a nota de todos os lados, o segurança se aproximou do caixa, que mostrou a nota para um superior, e só depois dessa estranha análise , me trocaram a nota , sem uma única palavra. Ninguém faz isso, não andam com notas para serem trocadas, a não ser que venha de outro país, como eu.

Os ingleses também batizam as suas moedas com nomes populares, e só se referem a elas assim.

Essas coisas não são ensinadas nos cursos de idiomas, só sendo um nativo para saber.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 02/12/2018
Reeditado em 02/12/2018
Código do texto: T6516977
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