Uma viagem de 100 anos.

Viver como no tempo dos meus avós , no início do século passado, quando o romantismo e as tantas descobertas tornavam a vida bem interessante, me fazem pensar e me transportar pelo túnel do tempo .

Sei que nunca usaria cartola e nem gravata borboleta, possivelmente apenas a convencional , metido num terno escuro de alfaiate e camisa de gola engomada , para a cabeça um chapéu de feltro da Chapelaria Paulista, só para sair , pois sei que era costume cumprimentar as damas com reverência, e tirar o chapéu ao entrar nos recintos. No reservado de casa, fumaria um cachimbo frente a lareira, jamais charutos . Eu não fumo, mas sei que na época era comum, se bem que o meu avô materno também não fumava.

Evitaria aqueles debates entediantes nos cafés enfumaçados, tanto quanto possível, mas não fugiria a uma boemia , com violão e uma seresta . Dançaria maxixe, polcas e valsas pelo salão, com as belas damas da sociedade paulistana.

Certamente ouviria chorinhos, que gosto muito, e ficaria sonhando ao som de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. Falaria sobre política com os mais próximos, evitando os excessos e as discussões acaloradas, mesmo que saindo do morno. Certamente visitaria os amigos para estreitar os laços de amizade, onde falaríamos do mundo que chegava a nós pelos periódicos.

Andaria de bonde como na minha infância, mas com mais frequência é claro, pois eram os coletivos da época. Evitaria o sereno da noite fria, seria prudente evitar a constipação .E vida sempre corria com brevidade, e penso que esse era um dos motivos para o romantismo.

Aos domingos de manhã um passeio pelo Trianon cortejando as moças do passeio , assistir a bandinha no coreto a tocar uns dobrados, e à noite o teatro. Nada de ópera, pois nunca curti, mas uma boa peça da moda.

Depois da repartição passaria pela livraria Garraux, passar os olhos pelas novidades , sempre se encontram ótimos exemplares por lá., depois aproveitaria o fresco da noite pelo "boulevard ", antes da ceia. Uma taça de anis e um jornal debaixo do braço, e que notícias trariam ?! - Provavelmente sobre a vitória das tropas aliadas na Grande Guerra , traria notícias do governo de Venceslau Brás, do novo sucesso de Vicente Celestino, as partidas de futebol no Velódromo e as apresentações do Municipal.

Quando enveredasse para o Parque da Água Branca me afastando dos transeuntes , exatamente às 20,00 , então estaria retornando ao ano de 2019 com uma crônica no bolso e algumas décadas mais jovem, sairia pelo salão central do Shopping Iguatemi, e todos pensariam tratar-se de mais um artista de rua - Talvez fosse exatamente isso por instantes, vestido assim, de forma tão incomum.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 30/01/2019
Reeditado em 30/01/2019
Código do texto: T6563257
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