Auditores - Corrigir ou punir.

Atendi auditores inúmeras vezes na vida, quando trabalhei durante anos em um a grande multinacional. Às vezes mais de um ao mesmo tempo, e é preciso vê-los com naturalidade, pois auditar é a função deles para manter os processos de trabalho dentro das conformidades.

A maturidade porém nos posicionava e sempre entendíamos que corrigir muitas vezes vem seguido de punir, uma dupla de ações que deveriam ser revistas em conceitos, pois isso inibe a sinceridade e oculta as informações. Quem ganha como isso ? - Ninguém !

Sempre fui muito " Caxias" quanto a procedimentos e calçava os meus processos com esmero, principalmente quando precisava usar o bom senso, pois nem tudo está nos manuais das empresas. Não se pode travar um processo de abastecimento na linha de montagem por problemas tolos, isso é insensato, e os prejuízos devastadores. Nesses casos nebulosos, deixava um relatório em anexo, explicando cada tomada de decisão, e o amparava tanto quanto possível nas legislações internas da empresa.

Respondia as perguntas com objetividade, sem me prolongar nas respostas, mesmo que tivesse vontade, sempre me lembrava da frase ; " não se pode ser mais realista que o rei". Os auditores vem para melhorar e por no prumo a realizações das tarefas, mas sabíamos que uma "canetada" reduzia a nota do departamento, colocando os nossos gerentes em situações difíceis. Sempre haviam retaliações , e nesse ponto é que me firmo.

Corrigir e punir, são formas ambíguas, precisam ser medidas e dosadas com justiça, pois nem tudo o que está errado carrega má intenção, apenas desconhecimento ou desorientação.

Sempre fiz questão de conhecer os procedimentos e aplicá-los, e como eu era um dos poucos que tinha essa preocupação, me tornei um manual ambulante de consulta. Não raro entrava em colisão com alguém, às vezes de grau superior na hierarquia, mas quando se tem argumentos não há como perder.

Este tema me veio à cabeça em razão de Brumadinho e Mariana, a negligência aparente sobre a fiscalização e os laudos , assim como as manutenções preventivas nas barragens.

- Está tudo bem, a revisão foi feita, há um risco médio e calculado- ( disseram).

- Não, não estava tudo bem e nunca esteve, eram papéis irresponsáveis, porque assim foram os que os assinaram .

Se o profissional não assina , perde o emprego, colocam outro no lugar, que assina sorrindo e tirando a poeira do ombro do patrão.

Quando dá "merda" o patrão não aparece, talvez trancado no banheiro , quem assina é o engenheiro, o químico, o geólogo...talvez até o faxineiro (?), mas eles ...não, eles são todos inocentes !

A forma de auditar, de corrigir , de punir ou não, hoje tem uma visão macro, varre-se a sujeira para debaixo do tapete.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 05/02/2019
Reeditado em 06/02/2019
Código do texto: T6567562
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