NOSTALGIA PATERNA

- Saudades de você, minha filha.

- Ué, pai; mas estou aqui todos os dias. Que história é essa?

- Saudades de você na cadeirinha da bicicleta. Pedindo para ver canoas no Rio Suruí. Feliz da vida com um presentinho de nada. Chorando porque me ouviu dizer, de brincadeira, que trocaria nossa casinha humilde por uma mansão. Dando gargalhadas gostosas por qualquer brincadeirinha boba. Deitada na rede, lendo livrinhos infantis. Pulando no upa-upa. De olhinhos arregalados, ouvindo minhas histórias. Dormindo ao som das musiquinhas que fiz para niná-la. Gostando de ser chamada de molequinha.

- Ih, pai; por que esse papo agora? Já acabou?

- Não, filha, tem mais...

- Mais o quê, pai?

- Saudades de quando você não perguntava “que história é essa”... nem dizia “ih, pai; por que esse papo agora?”.

- O que mais, pai?

- Já terminei. Agora o beijo de boa noite.

- Tá bom; pai. Beijo. Boa noite.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 10/02/2019
Código do texto: T6571404
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