As primeiras santas
                    da Bahia

     
1. Como é do conhecimento de todos, Salvador tem muitos e bonitos conventos. Um deles, o Convento de Santa Clara do Desterro, palco de boas e de más histórias, está entre os que mais gosto e admiro.
     
2. O Convento do Desterro, que me encanta e seduz - pela sua história polêmica e beleza arquitetônica - é franciscano nas suas origens. Fundado em 1677, monjas clarissas, filhas, portanto, de Santa Clara de Assis, vindas de Portugal, foram suas primeiras moradoras.
     
3. Não foi fácil implantar, na colônia, um convento de mulheres. No seu livro "Musa praguejadora", que estou lendo, a escritora cearense Ana Miranda, falando sobre o Desterro, diz que havia resistência da Corte à implantação de um convento feminino no Brasil.
     Argumento: "A colônia necessitava aumentar sua população, e o confinamento de mulheres cristãs faria diminuir  os casamentos e o nascimento de novos habitantes".
     
4. O livro, falando sobre os favoráveis à fundação de um convento feminino na colônia, assegura que a ideia contava com o apoio de famílias importantes e ricas da Bahia.
     Essas famílias "queriam resguardar as filhas que não possuíssem dote suficiente para um casamento à altura esperada..." ; facilitando o programa, uniram-se e financiaram a construção do prédio do convento.
     
5. O Convento de Santa Clara do Desterro, na sua versão primeira, está no livro da escritora alencarina, recebia moças vocacionadas, que "pretendendo conservarem  o estado virginal e florescerem em suas santas virtudes, desejavam servir a Deus nos votos e claustros da religião".
     
6. Mas chegavam aos claustros e clausuras do Desterro, jovens sem vocação religiosa. Por isso, o convento "era conhecido, mesmo fora da Bahia, pela liberalidade com que as moças ali viviam, visitadas por enamorados, principalmente padres franciscanos, entre célebres festas, ostentação de riqueza e mundanismo  e um ou outro escândalo", segundo a escritora alencarina. 
     
7. E aqui vale lembrar o irrequieto poeta Gregório de Matos, um freirático,que "cultivou um desejo enamorado por soror Mariana...", que adotava o pseudônimo de irmã Urtiga. 
     Sobre o relacionamento, tresloucado e romântico ao mesmo tempo, entre Gregório, o Boca do Inferno e Mariana, a Irmã Urtiga, algum dia escreverei.
     
8. Hoje, nesta crônica, vou me manter fiel ao título que lhe dei. Para mostrar, que a clausura do Convento do Desterro, apesar dos pesares, guardou, sob o mais rigoroso anonimato, há séculos, três freirinhas virtuosas, tidas como santas, as primeiras santas da Bahia.
     
9.Lembrá-las faz bem; principalmente aos que nunca ouviram a história de suas vidas monacais. Ei-las: Madre Maria da Soledade (1662-1719); Madre Margarida da Coluna (1668-1743); e Madre Vitória da Encarnação (1661-1715).
     
10. Das três, Madre Encarnação é a mais conhecida; a mais importante; a que mais se destacou no caminho da santidade. Escritores baianos falam sobre ela, em livros e artigos.
     
11. Indagam os que conhecem a história de Madre Encarnação, por que, até hoje, a Igreja não providenciou pelo menos sua beatificação; num tempo em que o Vaticano escolhe, às vezes, com demasiada ligeireza, os seus santos e santas.
     Os últimos papas foram generosos na escolha e eleição dos que, para eles, mereciam a glória dos altares.
     
12. Portanto, desde algum tempo, a Bahia já devia ter suas santas, Vitória, Soledade e Margarida. OH! Nem beatas são!
     Bastava que um dos últimos ocupantes do trono petrino tivesse voltado suas vistas para elas, as três freiras do Desterro.
     Aos baianos resta continuar venerando Maria Rita Lopes Pontes, a beata Dulce dos Pobres, Irmã Dulce...

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 12/02/2019
Reeditado em 13/02/2019
Código do texto: T6573318
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