LUTA EXISTENCIAL

LUTA EXISTENCIAL

Tínhamos feito compras no Atacadão, pra abastecer o mercadinho que eu e minha esposa administramos. Depois de deixar os produtos no estabelecimento comercial, eu, ela e o meu enteado viemos pra casa, exaustos e molhados de suor. Olhei as horas no celular. Era pouco mais de onze da noite. Todos queriam tomar um banho frio, porque era verão e o calor estava insuportável, antes de fazermos um lanche pra depois dormirmos.

O banho relaxa, ameniza a fadiga. Gosto de tomar banho frio. Só que no verão, com o calor intenso do dia, mesmo de noite, quando é mais fresca a temperatura no sertão; no entanto, a água que caía do chuveiro não me satisfazia plenamente o gosto de a sentir fria no corpo, tendo que me contentar com ela morna, e com a sorte de morar num bairro que não falta água.

Agora ocupado com as atividades diárias no comércio, o tempo pra escrever diminuiu, só não subtraiu a vontade de escrever. Ela continua viva, intensa, criativa na alma escritora. É bom, salutar, construtivo fazer o que gosta, presenteando o espírito com atividades diversas, combinando a teoria com a prática, contanto que os valores, os princípios morais, se integrem nas tarefas diárias exercidas, de tal modo que, mesmo diante das vicissitudes existenciais, a alma aprendiz, usando da sensatez no livre arbítrio, persista em trilhar pela senda que a conduz ao amor fraterno, ao bem comum.

Quando a minha esposa está bem cansada, demora de pegar no sono. Já eu, não tenho dificuldade pra dormir, mesmo cansado da lida do dia. E foi o que ocorreu: em poucos minutos de deitado, logo adormeci. Acordei às quatro da madrugada. Abri a porta lateral da casa com cuidado, pra não fazer algum barulho e acordar os que dormiam, sobretudo a minha esposa, que tem um sono leve.

Dentro de casa a concentração do calor tornava abafado o ambiente doméstico. Mas quando saí para a área livre e ampla da casa, a fresca da noite avançada me fez bem. Senti aquela sensação agradável no corpo e na alma. Olhei pro céu. A lua já tinha sumido do alcance visual. Algumas estrelas, no entanto, ainda se destacavam piscando esplendorosas. O silêncio era predominante naquele final de madrugada, quase amanhecendo. Ao longe, porém, o galo cantava. E mais perto, algum gato miava.

Exceto na fase das farras, dos desregramentos mundanos, quando me iludia em noites perdidas, aprazendo-me nos prazeres da boemia, que, graças a Deus e aos meus esforços, não fazem mais parte de minha vida, eu sempre dormi cedo e acordei cedo.

Aposentado de minha profissão, exerço hoje, a atividade de comerciante. Estando ocupado durante o dia, só tenho a noite pra escrever. Assim, tenho o hábito de acordar de madrugada pra exercer o ofício prazeroso da escrita. Entretanto, ao longo do dia, quando estou na atividade comercial sem atender nenhum cliente, sempre rabisco algumas ideias poéticas ou prosaicas, que depois, transformo-as em texto literário.

Não sei ficar sem ler, tampouco sem escrever. Qualquer instante de tempo propício, me devoto ao exercício edificante da leitura e da escrita. Em cada encarnação, temos sempre algo para ser corrigido, acrescido de nossa melhoria, de nosso avanço evolutivo.

Se nessa encarnação, a leitura e a escrita estão intimamente vinculadas a minha vida, quando desencarnar não será diferente, posto que, em alguma colonia ou mesmo na Casa do Escritor, no plano espiritual, terei imenso prazer, dentre outras atividades a serem exercidas do outro lado da vida, em continuar o meu aprimoramento de leitor e de escritor.

Para quem não sabe, a alma está todo tempo ativa, tanto encarnada como desencarnada. Aqui, ela se manifesta pelo corpo físico. Do outro lado da vida pelo perispírito, o corpo celeste. São inúmeras as atividades, portanto, exercidas pela alma, tanto do lado de cá como do lado de lá. Se nessa encarnação eu escrevo em alguns momentos, como médium inspirado, estando desencarnado, eu posso utilizar um médium pra escrever; bem como, na próxima encarnação, eu posso igualmente escrever como médium psicografo.

Pela porta lateral da casa, vejo o alvor do dia que amanhece. O tempo passou e eu nem percebi, envolto na escrita. A brisa fresca matutina me anima a iniciar as atividades do novo dia. Tomar um banho agora me fará bem, pois a água do chuveiro cairá fria. Instantes depois, vejo o meu enteado acordando pra trabalhar. Nos saudamos. Em seguida a minha esposa também acorda. Nos cumprimentamos com gestos carinhosos. Logo, logo estaremos prontos pra tomarmos o café da manhã. E bem dispostos pra enfrentarmos mais um novo dia de luta existencial.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 03/03/2019
Código do texto: T6588676
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