O VALOR DE UMA RIQUEZA PERDIDA

Quando somos adultos os tempos de criança parecem épocas distantes em razão do nosso presente e de tudo o que já vivemos. Lembro-me bem quando em vez nas férias de meio de ano permanecer dias e dias na área rural, na “roça”, junto a meus avós e tios. Parecia algo diferente e simultaneamente muito interessante, pois ali junto a terra, a bichos, na casa de roça tudo era bem distinto, um pouco mais difícil, mas que nos distraia com todo o exotismo pertinente. Na madrugada o galo cantava quase que ao pé do ouvido da gente. Seis horas da manhã em um frio danado parecia estar tarde, pois o movimento lá fora da casa já era intenso. Meu pai ou meus tios esfregavam as palmas das mãos, umas nas outras e tentavam se aquecer no “fogão de lenha” e tomando o café feito no bule. Naquela hora também me chamavam para tomar o leite puro, cremoso, direto no curral, ao pé da vaca. Sem falar que eu aceitava dois ou três copos e o bigode de leite era inevitável.

Ao retratar uma época de outrora no trecho acima, nos chama a atenção como os tempos e os valores são círculos de situações que se engrenam, se desarranjam e depois podem se encontrar em ares positivos. Não são apenas pontos de vista isolados. Nosso país em raiz histórica é naturalmente ruralizado. Há poucos anos, até a primeira metade do século XX principalmente, ainda tínhamos uma cultura rural muito abrangente. As famílias viviam e se desenvolviam em terras afastadas. Lá o objetivo era construir um lar, um patrimônio de sustentação dos membros familiares em que na maioria das vezes o homem dormia ao anoitecer e se levantava ao alvorecer em busca da produção, da plantação, da criação e engorda de animais para a provisão da casa. A mulher cuidava dos afazeres domésticos, dos filhos e da preparação da comida para as bocas que cada vez mais aumentavam. E isso era bom! Quanto mais filhos mais alegria na casa, mais gente para auxiliar na lavoura, na lida da roça e na produção. Com minhas avós não foi diferente, uma teve dez, e a outra do lado materno teve quatorze filhos, divididos entre homens e mulheres.

Lado outro com a modernização e evolução voraz de tecnologias essa realidade foi se modificando. As pessoas migraram para a cidade e buscaram novos conhecimentos. O emprego, o dinheiro, o alimento industrializado e imediato passou a tomar lugar nas mesas das casas. Hoje as famílias em média têm dois ou três filhos. Pois eles tendem a estudar, se desenvolver em conhecimento e habilidades técnicas para suprir o mercado. Então em certo tempo o ambiente rural ficou meio abandonado, pois a promessa de riqueza naquele momento estava no centro urbano. Todavia a correria urbana, a poluição sonora, desvalorização do verde e da natureza mais tarde se percebeu que bom mesmo era voltarmos às raízes naturais. Bom era respirar o ar puro; era o canto dos pássaros na alvorada; que o leite puro e o biscoito, o bolo caipira eram as maiores riquezas que fomos descobrir mais tarde. Não sem razão hoje, a natureza, o silêncio e a paz da roça, ainda que em tempos curtos de feriado ou finais de semana, se tornaram a cura e o remédio para muitos nessa nova era em que eventualmente na cidade não se pode nem sentir o cheiro e o gosto do café feito na hora.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 09/06/2019
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