Não às cartas de amor

     1. Os antigos liam Pitigrilli. Os novos, se duvidar, não o conhecem nem de nome. Pitigrilli, belíssimo escritor italiano, nasceu na cidade de Turim no dia 9 de maio de 1893 e morreu no dia 8 de maio de 1975 (81 anos) na sua cidade natal. 
     
2. Na pia batismal, Pitigrilli recebeu o nome de Dino Segrè. Escreveu muitos livros. Os mais conhecidos são: "O cinto de castidade", "Cocaína", "Ultraje ao pudor", "Loura dolicocéfala" e "Não se come frango com as mãos", com certeza o mais conhecido.
     
3. E aqui, aquele lamento de sempre: infelizmente as editoras se esqueceram de Pitigrilli. Procura-se por ele nas melhores livrarias e se tem como resposta que ninguém conhece esse escritor. Hoje, o mais fácil é procurá-lo nos gloriosos sebos. 
     
4. Muito bem. Gosto demais de "Não se come frango com as mãos - Moderno código de boas maneiras". Todas as vezes que volto às suas páginas, e o faço com relativa frequência, vejo, com pesar, o quanto perdem os leitores novos por não conhecerem a obra do autor de "A loura dolicocéfala". 
     
5. Ontem, por exemplo, aproximando-me da madrugada, reli o capítuo XLIV de "Não coma frango..." intitulado "Meu amor, vírgula". Nele Pitigrilli tece longa e saborosas considerações sobre as cartas de amor, apontando os prejuízos que elas podem causar ao missivista apaixonado. 
     
6. Aproveitando o espaço, queria dizer que, ao longo da minha vida, escrevi dezenas de cartas de amor. Nunca preocupei-me com os danos que elas poderiam me causar. E mais: as escrevi, todas, com o coração e as mãos. Entendia, que, cartas de amor  escritas na minha confidente Olivetti, seria uma carta sem alma. Por isso, usava invariavelmente a minha Parker 51.
     
7. E as amadas, como a quererem me agradar, davam suas respostas em missivas também escritas à mão. Muitas dessas cartas, cheias de alma e paixão, eu  cheguei a guardar; sentia nelas o perfume da missivista querida. Teve uma, muito especial, que assinou sua carta (a última, por sinal) com os seus lábios tingidos de batom. 
     
8. Voltando a Dino Segrè. Como disse, in "Meu amor, vírgula" , em três tópicos, ele aponta danos que as cartas de amor podem causar ao mancebo apaixonado. Claro, que, é resumindo que levo ao meu dileto leitor o que disse o incrível Pitigrilli.
     
9. Primeiro - "Um dia, quando o amor tiver chegado ao fim, você recebe um pacote de cartas - as suas - amarradas por um cordão, e o convite para trocá-lo por outro pacote de cartas, as dela. Mas aonde terão ido parar? As três ou quatro primeiras foram conservadas e as outras?" Convenhamos que é complicado. 
     
10. Segundo - "As suas cartas dirigidas a u'a mulher que o ama se transformam num cartucho de dinamite. O maço, que ela escondeu no estôfo de uma poltrona, com o ceder das molas fará subir das nádegas ao cérebro a curiosidde do marido, que apalpará a cadeira. E a justificativa: "são de uma de minhas amigas, não posso dizer-te qual, fez-me jurar que não diria".
     
11. Terceiro - "Cada carta que você escreve a sua mulher durante a lua de mel é um documento que irá engrossar o processo judicial na próxima ação de desquite ou divórcio, e cada palavra  sua se tornará um punhal nas mãos do advogado adverso".  Quando advoguei nas Varas de Fámília, vi muito isso acontecer.
     
12. Pitigrilli dá, incisivo, este conselho que ele chamou de fraterno: "Jamais escrevam!".
     E resumindo sua intressante página sobre cartas de amor ele escreveu o seguinte: "Se vocês se amam, digam-no pelo telefone um ao outro, ou gravem - formidável ! - seus nomes na casca de uma árvore. É sempre um excelente pretexto para ir ao campo, adormecer nas nuvens e despertar na relva". Qui romântico!
     Acautelem-se, pois, os missivistas loucamente apaixonados. Se liguem nas advertências feitas por   Pitigrilli... 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 22/06/2019
Reeditado em 23/06/2019
Código do texto: T6679132
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