Breve trajetória literária

Não foi à toa que escolhi o ano de 2019 para publicar meu mais novo livro. Andei abrindo meu baú do tempo e resgatei meus primeiros escritos poéticos, cujo primeiro poema data de 1999, completando agora 20 anos.

Comecei a escrever depois de ser apresentado, por minha irmã Edina Boniatti, à obra de Machado de Assis. Era diferente daquilo que lia antes... Era tão mais rico! Comecei com o "Dom casmurro", mas me fascinaram, logo após, as "Memórias póstumas de Brás Cubas". Aí fui conhecer o que era esse negócio de poesia. Fui ao encontro de Castro Alves, cujo "Navio negreiro" minha mãe já declamava um trecho, e de Álvares de Azevedo. Inundei-me.

Costumava me sentir um inútil, mas agora era poeta, ainda mais quando, após encadernar em 2000 um grupo de poemas, que intitulei "Esgoto de Almas", a minha futura professora de Literatura, na Unioeste, Valdeci Oliveira, que os lera através da minha irmã, gostou de um deles (cujo verso que a encantou era este: "Desata, Ó Deus, o nó que me atordoa!") e disse que eu era realmente poeta.

Era das primeiras vezes em que via um sentido no viver. Por isso, ingressei no curso de Letras no ano de 2001. E a literatura, o escrever, nunca mais me abandonou - nunca mais me deixou em paz, tornou-se uma necessidade para mim.

Nunca fui condecorado, com exceção em 2018, quando recebi uma menção honrosa pela SEED/PR emitida pelo NRE de Toledo, cujo convite para a cerimônia chegou-me exatamente no dia e hora a realizar-se, impedindo-me de ir recebê-la. Na seleção dos "101 poetas paranaenses", de 2014, pela Secretaria de Estado da Cultura, se meu nome foi avaliado, foi descartado. Não entrei. Pois bem, impossível seria contemplar a todos e todas. Fui publicado, via Secretaria de Estado da Cultura em 2002-2003, junto à poeta Edi das Graças Braun. Mas em 2005-2006, por aí, desisti de participar de outros concursos literários, em face de uma publicação (em que conquistei o segundo lugar) com erros de digitação em meu poema.

Outra importante menção foi a de Jô Siqueira e sua crítica entorno de meus escritos. Jô do Recanto das Letras, só isso que sei dele, não consigo mais contatá-lo nem por e-mail, mas que pessoa importante que me fez sempre acreditar que eu era grande em meus escritos. Além disso, meus lindos amigos e amigas, meus familiares e professores, que me outorgam sempre comentários amáveis e enaltecedores.

Em 2004, publiquei artesanalmente o livro "Girante popular", apoiado pelo Colegiado de Letras da Unioeste e prefaciado pela professora Lourdes Alves. Chamava a atitude de Neo-marginalismo Poético. E em 2006, publiquei os "Fragmentos do silêncio (versos esparsos)" para então desistir de vez de publicar livros físicos. "A estratégia do Ser", deste ano de 2019, é a exceção, mas é para mim uma comemoração de 20 anos nos quais me dedico assiduamente ao ato da escrita.

No futuro, meus poemas, como os de Gregório de Matos, por exemplo (não talvez com o mesmo mérito), estarão voando, não em papéis (como meus primeiros escritos), mas na web, em posts e vídeos. Tenho certeza que os lerão. Tenho certeza que à hora de minha morte alguns versos meus circularão. E depois uma ou outra pessoa os verá passando pelos olhos, por aí, perdidos.

Entretanto, eu terei morrido feliz, porque essa lavra de anos de escrita foi o acalanto que tive em vida para minha dificuldade de socialização, para meu silêncio sobre minhas dores pessoais que trago e guardo sempre comigo só, para minha profunda tristeza em relação à vida em sociedade... Me derramei, transbordei, saí de mim e permaneci ali, sempre, eternamente nas tortas linhas que me fazem, enquanto homem, como um Deus. Meu consolo, meu refúgio, minha santa delícia - como diria Santo Agostinho acerca de Deus em suas "Confissões".

Feliz fui eu, por ter a arte como alívio e paixão dos meus dias. Meu coração está todo ali, aos olhos das letras.