52 Hertz

“Solidão: um lugar bom para se visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada” (Henry Wheeler Shaw)

Nas águas do Oceano Pacífico, todos os anos entre os meses de Agosto e Dezembro encontramos uma baleia que não tem família, não tem companhia de outras baleias, não tem uma parceira para namorar, não há outras de sua espécie... Não há ninguém para nadar com ela. Encontramos um animal que vaga nesse mundo ano após ano sem uma família...

A Baleia 52 Hertz, vulgarmente conhecida como o animal mais solitário da terra, ela que na verdade é ele, um macho que não se encaixa em nenhuma outra espécie de baleia, é único, na imensidão azul do mar nada sozinho cortando o vazio, sem entender porque não existem outros para se comunicar... A Baleia 52 Hertz tem um canto na freqüência de 52 Hertz (motivo de ser assim chamada) e por isso nenhuma outra baleia a escuta, é inaudível, geralmente todas as outras cantam na freqüência de 15 ou 25 Hertz... E não importa o quanto a nossa baleia solitária cante, as outras jamais a escutarão... Ser diferente de todos os outros nos custa um preço alto...

Enquanto todas as outras baleias têm seus pares, têm suas vidas, seus amores, têm seus filhotes, seus grupos, enquanto todas as outras baleias se comunicam e cantam para o acasalamento, 52 Hertz olha para todos os lados e não vê ninguém.

Talvez a 52 Hertz nunca encontre uma companhia, talvez ela nunca saiba o que é ter uma família, um grupo para se abrigar, talvez 52 nunca tenha uma parceira...

Machuca saber que há um ser que não é ouvido e nem compreendido, pois a natureza o fez diferente? Machuca saber que você não é compreendido e talvez nunca encontre alguém para nadar ao teu lado... A existência tem disso... Talvez você pense, "essa Baleia copiou a minha história de vida"...

Às vezes tudo o que você vê é vazio a tua volta, parece estar numa pintura de Vilhelm Hammershøi, parece estar dentro de “Interior from Strandgade With Sunlight on the Floor” de 1901, ou sente que não há quem te levante do chão quando precisa, como a obra de Edward Hopper “Summer Interior” de 1909...

Nós vivemos uma epidemia de Solidão? Será? Estatísticas apontam que na Noruega 33% das casas são de pessoas que moram sozinhas, o mesmo número da Alemanha... 33% das casas alguém acorda sozinho, vai dormir sozinho, quando volta ao lar depois de um dia de trabalho, não encontra ninguém...

Será que vivemos uma epidemia de solidão? Ou vivemos uma jornada em busca de encontrar um significado dentro do vazio? Um caminho buscando descobrir as respostas dos nossos conflitos no silêncio sem envolver terceiros? Para alguns a solidão é uma escolha, é uma redenção... As vezes a solidão pode te ajudar a perdoar, a si perdoar, Rudyard Kipling aconselha “Preencha o minuto em que você acha impossível perdoar por 60 segundos de distanciamento.”

Você não foi feito para vagar por aí, ó alma solitária e desavisada, solidão é segundo o indestrutível Martin Heidegger, um estado inato do homem, cada um enfrenta a sua solidão de maneira distinta, ninguém pode vivenciar seu aprendizado por você, mas você pode e deve amenizar a sensação de estar vivendo a vida do outro ao desfrutar de apenas sua própria companhia...

Solidão talvez seja o voo de pára-quedas em que você e seu ego buscam colocar os pés no chão outra vez...

Eden Mendes
Enviado por Eden Mendes em 22/08/2019
Reeditado em 30/08/2019
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