( Fotos Pssica - ano de 1974 - Eu, 20 anos.


A CAMINHO DA FEIRA DE CARUARU
Ysolda Cabral
 

Lembranças boas sempre levam à outras ainda melhores e, como ultimamente ando dada a elas, lá vou eu teclado afora a caminho da Feira de Caruaru. A minha Feira, o meu "Shopping", o meu passeio preferido. Eu gostava tanto que mamãe não se incomodava de me largar solta por lá – e ela era doida de tentar me segurar? Mamãe fazia isso com meus irmãos. Eu? Nunquinha! Contudo, sempre fui uma boa filha.

E, enquanto ela, com meu pai, fazia a feira, eu saltitava que nem passarinho feliz da vida pra lá e pra cá. Ora estava lá perto do Colégio Sagrado Coração, olhando os móveis feitos pelos artesãos e decidindo, se, eu pudesse, o que levaria para casa. Depois subia e passava pelas roupas e sapatos – cada coisa tão linda!

Em frente a Igreja da Conceição, – onde fiz minha primeira comunhão com o saudoso Pe. Bosco Cabral, primo do meu pai –, ficava o artesanato e era onde eu demorava mais. Os bonecos de Vitalino, os trabalhos em renda, em palha, em vidro, em tecidos - as bonecas de pano eram o máximo! Tudo me encantava e era ali, também, que a Bandinha de Pífano gostava de tocar. Eu, sem titubear, me juntava a ela e cantava, dançava, sorria e era só felicidade.

Depois continuava o meu passeio e logo me deparava com os bolos, doces e queijos. - Comia de entortar! Conversava mais um pouco com os feirantes – conhecia todo mundo - e seguia em frente.

Logo depois da Loja da família Vila Nova, eu encontrava o Ceguinho dos Sete Instrumentos, e dançava, e cantava mais um pouquinho e ia embora o deixando feliz da vida e com uns trocados a mais.

Na Rua Tobias Barreto, ou Cafundó, encontrava com mamãe, a conversar com Guiomar - mãe de Alcimar, futura esposa do maior teatrólogo de Caruaru,- meu amigo –, Vital Santos, autor da belíssima Peça "O Sol Feriu a Terra e a Chaga se Alastrou", que esteve em cartaz nos teatros de Paris longo tempo.

Mamãe também gostava de conversar com Maria Welkofic, proprietária da melhor confeitaria de todos os tempos da minha Caruaru querida, ou, ainda, com Nininha, mãe de Sóstenes - aquela que me pelou quando, criança pequena, ( como diria o escritor e poeta recantista, Yamânu), peguei piolho no colégio e o pestinha do filho dela ameaçava contar para todo mundo, enquanto minha amada Tia Olga, acompanhava a gente da porta de sua casa, situada naquela rua que até hoje não sei a razão de ser conhecida como Cafundó, onde se comercializava as mais belas e saudáveis frutas e verduras de toda a região. E foi assim até que fiquei "gente grande" e vim morar no Recife, no ano de 1975.

Com certeza a Feira de Caruaru, aos sábados, era um grande acontecimento para todos nós caruaruenses, e, para mim, era algo especial, mágico e ansiosamente esperado.

Hoje ela ainda existe, naturalmente, mas nada que se compare aquela que foi motivo de inspiração para Onildo Almeida e Luiz Gonzaga comporem a canção que a fez conhecida no mundo inteiro.


Bons tempos que não voltam mais…
 
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Praia de Boa Viagem-PE
Em 23.08.2019
Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.
www.ysoldacabral.blogspot.com/

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Comentário altamente relevante
que, aqui dou destaque, muito agradecida.  



Raio Eterno

No dia 6 de dezembro de 2006, a feira de Caruaru recebeu o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, concedido pelo Ministério da Cultura, através do Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Parabéns povo Caruaruense! Parabéns Poetisa Ysolda por tão bela Crônica a exaltar esse rico pedaço de Brasil.