A velha da calçada

Apenas uma mulher a mais, sentada numa calçada fria, numa tarde chuvosa de sexta-feira.

Ao seu lado, uma caixa de remédios vazia, uma sacola com algumas moedas, um saco de roupas, alguns pães embrulhados em papel de presente.

De repente, dentre os transeuntes, liberta-se da mão da mãe, uma criança. Sorridente, corre em direção aos carros que trafegam, apressadamente, entre sinais e apitos.

Grita a mulher, sentada na calçada fria:

- Olha o bicho, menino!

Todos param. Carros freiam. A criança olha em busca da voz que a despertou. Começa a chorar. Ela o chama. Convida-o a sentar-se em seu colo. Sacode a caixinha de remédios, tentando distraí-lo, enquanto lhe afaga os cabelos.

A mãe, apressadamente, percorre o enorme caminho que os separa, enquanto um pequeno grupo de observadores a tudo assiste, silenciosamente.

Com um puxão pelo braço, retira o filho do colo da mulher. Passa as mãos pela roupa do menino, limpa as suas mãos no jeans, pede licença aos observadores e segue seu rumo, enquanto, entre soluços, procura a criança a todo instante olhar para trás.