Iguaporanguismo - I

Os sonhos nutrem a alma de esperança. A sala de aula sempre foi o palco dos sonhos e da esperança de um mundo melhor.

Sala de placa; piso vermelho; quadro negro; telhas de amianto; cadeiras, prateleiras e mesas de madeira e o pó do giz a se entrelaçar com os sonhos que pairavam sobre o ar.

Os braços que construíam o futuro da nação, faziam as provas e o diário; rodavam nos mimeógrafos as atividades que embebedavam os alunos com aquele cheiro de álcool.

Corriamos pelas ruas sem asfalto, entre os becos tomados pelo cerrado e por entre as cercas de arame farpado.

Nos dias de seca a cidade se tornava um verdadeiro sertão, tão densa e seca com um sol tão quente que nos vinha esturricar (lembrava O quinze de Rachel de Queiroz, ou a obra Vidas Secas de Graciliano Ramos). Faltava água e os poços secavam; o povo tinha que buscar água na prefeitura.

Crianças sujas, com a poeira, tomavam banho nas torneiras da prefeitura municipal e quando tinha circo, à noite, era surreal:

Os risos, o sonho, as brincadeiras e as lonas azuis.

No picadeiro, o mágico mexia com a nossa imaginação e aquele lindo espetáculo penetrava o coração.

Lá do outro lado estava nossa professora com uma maçã do amor na boca e os olhos brilhando como as estrelas - a docente voltara a ser criança novamente.

E no outro dia pela manhã, lá estávamos na sala de aula, repletos de sonhos e entre as letras a navegar pelos livros que trouxeram para a alma da nossa infância... alimentar.