1939

1939

1939, 1939...

Na noite fria e chuvosa, gritava dentro daquela trincheira desesperado

com o ouvido sangrando causado por uma bomba

meus gritos, não escutavam, por mais que minha garganta se esforçasse

óbvio que ninguém escutaria no meio daquele inferno humano;

nem mesmo eu conseguia ouvir meus pensamentos.

Meu companheiro cortado ao meio, não entendia o que tinha acontecido

até esvair-se por inteiro;

Talvez contemplando aos deuses que vieram lhe buscar daquele horror.

Sem compreensão aquele calor louco em meu braço,

eram estilhaços fulminantes, foi quando fiz um torniquete.

Noite iluminada pelas bombas, não sabia mais quem era meu inimigo

tão pouco entendia o motivo de estar ali,

estava transtornado com medo que a trincheira se transformasse em cova,

e dali não saíssem nossos corpos e anseios.

Minha farda encharcada, fome de três dias, com uma semana de bombardeio intenso,

que mais poderia acontecer, ao pobre menino que chorava dentro de mim

tornei-me criança soluçante, sem saída.

O verdadeiro som da solidão que tocava em meu coração,

como uivos de um lobo desesperado e insano.

Vísceras opostas ao meu entender vivido

de acordo com tudo que o caos me contou

daquele tempo entrincheirado de meu ser, no meio daquele barro,

qual vida gostaria de levar?

E qual vida me levou até aquela trincheira?

Qual tamanho tem um ideal superior a vidas alheias?

A guerra como um “genocídio legalizado”, que transforma corpo e alma

em meros papeis burocráticos, esquecendo o valor humano

dentro de uma trincheira que a qualquer momento pode tornar-se em cova.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 06/11/2005
Código do texto: T67993