Em que mundo nós estamos? Como reagir?

Ao menos 58 migrantes clandestinos provenientes de Gâmbia morreram no naufrágio de uma embarcação às margens da Mauritânia na tentativa de chegar às Ilhas Canárias. (05/12/19)

Um grupo de homens pôs fogo numa mulher vítima de violação no norte da Índia quando ela se dirigia a um tribunal para testemunhar a agressão ocorrida há um ano atrás. (05/12/19)

A cada três dias, um homem mata a sua esposa, ex-noiva ou ex-namorada na Alemanha. O elevado nível socioeconômico, educacional, cultural e de bem-estar em comparação com outras sociedades menos favorecidas parece influir pouco diante de tamanha violência machista.

Em que mundo nós estamos? Onde nós vivemos? Nós que já estamos acostumados, cansados e enojados de estar sempre convivendo com esse tipo de notícias... Nosso esforço racionalizador, gestor, político e diplomático parece não dar conta dessas realidades. E nossa inércia, languidês e tontura nos paralisa. O mundo em que vivemos se mostra cada vez mais bizarro e já não somos capazes de reconhecer-nos a nós mesmos. Diante do espelho, nem aparecemos...

Os governantes devem preservar a segurança e os direitos humanos de suas populações. Por que eles se esqueceram de governar? Certamente, nunca se esqueceram de acrescentar em suas contas bancárias seus salários polpudos no final de cada mês...

O movimento “me too” começou em 2017 quando o produtor cinematográfico Harvey Weinstein foi acusado de abuso sexual no “New York Times”. A notícia caiu como um meteoro, lançando pedaços e estilhaços para todas as latitudes deste planeta de uma cada vez mais mórbida sociedade patriarcal e machista permissiva e acobertadora da submissão da mulher com tinturas de normalidade e legalidade. As mulheres cada vez mais numerosas, competentes, inteligentes e influentes, movendo-se resignadas nessa atmosfera cultural anacrônica adversa e ninguém fazia nada... Até o dia em que o impacto abalou as estruturas e sacudiu a todos!

Talvez seja esta a oportunidade de dispormos de novas forças que não produzimos nem utilizamos suficientemente, mas que já nos foram dadas por Deus há muito tempo...

Na bíblia, o salmo 144 reconhece a fragilidade, fugacidade, precariedade, vulnerabilidade e insuficiência humanas quando menciona no seu versículo 4: “O homem é como um sopro, seus dias como a sombra que passa”.

Diante de tamanha indigência como poderemos gostar de nós mesmos? Como é possível ter uma autoestima forte e segura? Como seria bom se um “amor extra” caísse direto do Céu sobre cada um de nós a qualquer momento! Parece ser justamente isso o que nos diz São Paulo ao escrever na Carta aos Romanos, no início do capítulo 5:

“A tribulação produz a constância; a constância produz a autenticidade; a autenticidade produz a esperança; e a esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.

Como se trata de dom de Deus – onde beira o infinito –, a abundância e o excesso são plenamente admissíveis. Imagina que o teu coração é a Bacia do Prata onde escoa, proveniente do Rio Paraná, a barragem da Hidrelétrica de Itaipú. Toda a água aí derramada é o amor de Deus.

Depois, o que entrou pode sair como impressionante força humana! É o próprio Jesus quem diz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Aquele que crer em mim - segundo dizem as Escrituras -, de seu interior jorrarão rios de água viva.” (Jo 7, 38)

Quantos rios? Suponhamos... uns dez rios Itajaí-Açu! Que “água viva” é essa? É aquela mesma do diálogo de Jesus com a samaritana (Jo 4): “Se tu soubesses quem é que te pede de beber, certamente és tu que me pedirias e eu te daria uma ‘água viva’”. Esta “água viva” é o Espírito Santo!

Dos dez rios que saíram do meu “coração-bacia-do-prata”, amarei a todos – este é o plano – com nove rios e um tomarei para mim para “encher o tanque” da minha autoestima para que eu não ande temperamental, entre altos e baixos, oscilando por aí...

Tudo indica que parece ser esta a solução – a saída de uma sociedade tão tenebrosa! Viver o dinamismo sobre-humano e humano da samaritana ao encontrar-se com Jesus. Chutar o balde e voltar correndo para a cidade (cf. Jo 4, 28) com uma vontade incrível de acertar na vida, de agir e de comunicar-se!