Frei José Mojica, OFM

     1. Do excelente Antonio Carlos Villaça, estou lendo "Os saltimbancos da Porciúncula".  Saborosíssimo esse livro do saudoso escritor carioca, de estilo simples, mas dono de um texto respeitado e de apreciável conteúdo. 
     
2. Em verdade, nunca se pode dizer que é tarde para ler a obra de Antonio Carlos Villaça. O difícil é encontrá-la nas nossas livrarias, no momento tão esvaziadas. Visito-as pelo menos uma vez por semana e poucos "novos lançamentos" encontro nas suas prateleiras. 
     
3.  Antonio Carlos Villaça, jornalista, conferencista, escritor e tradutor, nasceu no Rio de Janeiro em 31 de agosto de 1928; e, no Rio de Janaeiro faleceu, no dia 29 de maio de 2005 - 76 anos. Morreu cedo. Deixou-nos, porém, interessantes livros. Como adquiri-los? Possivelmente nos bons sebos espalhados pelas cidades.
     
4. Um dia, ele escreveu uma crônica que caiu nas minhas graças. Deu-lhe este instigante título: "Quando eu chegar ao Céu..." É uma crônica sem palavras inacessíveis o que torna agradável a sua leitura. Aliás, o que Villaça escreve não cansa o leitor, posso garantir.
     
5.  Ele abre a dita crônica dizendo o seguinte: "Quando eu chegar ao Céu, de manhã, de tarde, ou de noite, não sei ainda, pedirei para ir à biblioteca de Deus, onde curiosamente bisbilhotarei - com respeito - algumas obras". Faria o mesmo. Difícil é chegar ao Céu com tantos pecados, mortais e veniais, que carrego comigo, desde "novim".
     
6. Segue Villaça dizendo, que , ao chegar ao Céu, pedirá "para conversar com Manu, Manuel Bandeira", que, diz ele, "se chamava Neném". E acrescenta: "Matarei a saudade do dentuço Manuel, que foi o melhor ser humano que conheci, neste mundo". 
Também, se chegasse ao Céu, daria tudo para bater um papinho com o querido vate maurício, autor de lindos versos. Como estes, in "Epígrafe" : - "Sou bem-nascido. Menino,/ Fui, como os demais, feliz".
     
7. Mas, em "Saltimbancos da Porciúncula" uma crônica me comoveu e me devolveu a um passado que considero remoto. Nela, Villaça descreve seu encontro, na Porciúncula, não a de Assis, mas a de Niterói, com um renomado franciscano. Diz: "Nada menos que José Mojica. Em pessoa. O cantor. O ator. O mexicano elegante, alto, que provara o sabor da glória fugidia".  Frei José Mojica, que conheci pessoalmente e tive o prazer de apertar-lhe a mão.
     
8. Como e quando? Eu estudava no Seminário seráfico de Ipuarana, no alto da serra da Borborema, perto de Campina Grande, na Paraíba, idos de 1950. Quando, de repente, apareceu, no nosso claustro, um frade muito bonito, um verdadeiro galã, chamado Frei José Mojica. O padre reitor logo se incumbiu de contar para a meninada a história do ilustre visitante. 
     
9. Soube, então, que Frei Mojica, antes de ser frade, fora cantor e ator em Hollywood, participando, como principal estrela, de alguns filmes - "Yo Pecador", "El Capitan aventurero", "La cruz e la espada , e outros - contratado pela 20th Century Fox.  Conheço muita gente que viu seus filmes e gostou; Ivone, minha mulher, por exemplo, uma cinéfila. 
     
10 . Soube, ainda, que, possuidor de uma exuberante voz, José Mojica interpretara belíssimas "páginas musicais". Cantou, entre outras canções, "Maria La Ô", "Jurame", "Granada", "India", "Torna Sorrento" e a conhecidíssima "Solamente Una Vez", cuja autoria, lhe é atribuída. Amigo, ouça as músicas do José Mojica acessando o Spotify.  Ele, nos seus tempos de glória como cantor. 
     
11. José  Mojica, contou o reitor, num determinado momento de sua vida, abandonou o cinema, os microfones e os palcos e se recolheu a uma clausura franciscana no Peru. Abraçou o Poverello de Assis. Tornou-se frade e, na Ordem, recebeu este nome: Frei José Francisco de Guadalupe Mojica. 
     12. Foi assim que conheci Frei Mojica, lembrado por Antonio Carlos Villaça. Curti a sua história, e, como seminarista, me dispus a imitá-lo, recebendo o hábito de Francisco. Não aconteceu: deixei o seminário muito antes de entrar no Noviciado, o primeiro passo, rumo ao sacerdócio. 
     13. Entre as minhas boas "memórias franciscanas", está, sem dúvida, Frei José Mojica, um exemplo de irmão seráfico. Certamente como desejou, Frei Mojica morreu no mais completo anonimato em uma cela fradesca de um convento de Lima, Peru, onde repousam seus restos mortais.  

 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 21/12/2019
Reeditado em 22/12/2019
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