Os grisalhos e o amor
 


                    Só se envelhece, quando se deixa                     de amar.       
                                   Santo Agostinho

     1. Sim, não se enganem, os grisalhos não desaprendem a amar simplesmente porque ficaram velhos. Amam, não diria com a impetuosidade avassaladora de um árdego mancebo, claro, mas com a intensidade e a ternura que a "intimidade" requer...
     2. Assim é, e querem saber porquê? A escritora Mary del Priore, no seu livro "Histórias e Conversas de Mulheres", tratando do amor na "melhor idade", dá a resposta, num texto bem elegante. É que, diz ela, "...os corações não envelhecem nunca". 
     3. Peço licença ao leitor para fazer uma observação de cunho estritamente pessoal.       Veja. Dizer que a "terceira idade" é a "melhor idade" é alimentar uma tremenda mentira.
     No mínimo, a "terceira idade" pode ser chamada de uma "boa idade"; nunca a melhor. Os motivos que me levam a esta conclusão, direi em outra oportunidade. Obrigado!
     4. Bom mesmo, amigo, é ser jovem.
     Minha conterrânea, a romancista cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), no livro "Tantos anos", que escreveu em parceria com Maria Luíza de Queirós, sua irmã, desabafou: "Falta só um ano e seis meses para fazer oitenta anos. Essa coisa me injuria muito".           Estaria Rachel brigando com a velhice? 
    5. Mary del Priore, dona de uma obra literária farta e maravilhosa, no livro que aqui citei, dedicou uma página ao que ela chamou de "Amores de outono"; ela quis dizer, o amor dos encanecidos. E para ilustrar sua página, Mary conta esta história cheia de doçura.
     6. A história envolve u'a importante figura do Império, na sua idade provecta, e uma bonita baiana, mulher rica, cativante e nobre, alguns anos mais nova do que ele. 
     Registgre-se: o amor que os uniu não foi uma coisa passageira: não, amaram-se por mais de 34 anos, no Brasil e na França.
     7. Quem era ele. Dom Pedro II, nosso último imperador. Quem era ela. Dona Luíza Margarida de Barros Portugal, depois a Condessa de Barral. Ele, nascido no dia 2 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro; e ela, nascida no dia 13 de abril de 1816, em Santo Amaro da Purificação, cidade do recôncavo baiano. 
     8. Deposto, Pedro II exilou-se em Paris. No exílio -conta Mary - ele passou a frequentar o castelo francês da Condessa, "sua grande paixão", esquecendo sua mulher, dona Teresa Cristina, descrita como uma mulher feia. Nos braços de sua amante, Pedro matava as saudades do Brasil e afogava suas mágoas...
     9. Todos os dias, conta a Historiadora, Dom Pedro II depositava à porta do quarto de sua amada "um ramalhete de flores". Flores, frisa Mary, que o velho imperador, loucamente apaixonado, as apanhava, pessoalmente. 
     10. "À noite - prossegue Mary - amante e amada "liam juntos e dialogavam em frente à lareira". E a Condessa "tomava a mão dele entre as suas e, com delicadeza, as massageava". Ah, as mãos! Capazes de transmitir o mais doce e o mais amoroso carinho... 
     11. É fascinante o texto de Mary Del Priore  visando, em última análise, mostrar que os velhos também amam, não importando os cabelos brancos que lhes enfeitam a fronte.
     É a confirmação de sua tese, segundo a qual, "os corações não envelhecem nunca". Amor como o de Pedro e a Condessa existe aos milhares... 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 30/01/2020
Reeditado em 03/02/2020
Código do texto: T6854161
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