3 CIDADES - 3 FRONTEIRAS - PUERTO IGUAZÚ

3 CIDADES – 3 FRONTEIRAS – “PUERTO IGUAZÚ”

Em qualquer lugar que haja um perímetro fronteiriço, seja entre cidades ou estados, sempre há uma certa curiosidade; um certo mistério, excitação e uma sensação de rompimento de limites próprios; muito maior e com mais intensidade, quando rompemos a linha entre países. A sensação é de superação, orgulho, conhecimento e bravura, talvez incorporando o espírito dos antepassados que marcaram com sangue tantas destas fronteiras e que hoje formam as nações mundiais.

O Brasil faz limite com outras 10 nações, mas nenhuma destas fronteiras é mais intrigante, sensacional, excitante e curiosa como a Tríplice Fronteira, cortada e demarcada pelos rios Iguaçu e Paraná, onde estão o Brasil, o Paraguai e a Argentina. Um barril de pólvora que sempre ameaça explodir, mas que se disfarça através da estampa do turismo e da paz mundial.

Do lado argentino está a bucólica e pequenina Puerto Iguazú que pertence à província de Misiones; do lado paraguaio está Ciudad del Est, que pertence ao Departamento do Alto Paraná e no lado Brasileiro a famosa Foz do Iguaçu. Cada uma avista a outra e como já foi dito, apenas dois rios a separam, mas duas pontes e muitas oportunidades a fazem as cidades mais intrigantes da América do Sul.

Esta crônica terá três partes e cada capítulo será destinado a falar de uma destas cidades, para que mais pessoas possam conhecer um pouco da realidade de cada uma e também conhecer a história, os mitos, as verdades e as malandragens que são inerentes daquela região.

Nesta crônica, PUERTO IGUAZÚ da Argentina receberá o primeiro comentário e eu sinceramente espero que não ocorra má interpretação, nem dos leitores, muito menos das autoridades dos três países. Tudo que for escrito nestas três matérias foram presenciado por mim e por outros amigos que estiveram nas três cidades no mês de junho ultimo de férias, portanto, é a mais pura verdade.

Quando chegamos no Paraná através de Curitiba, alugamos um carro da Thriffity Rent a Car no aeroporto e logo ali, começaram nossas primeiras revelações. A locadora ao saber que pretendíamos visitar a Tríplice Fronteira, nos disse que não permitiam que seus veículos cruzassem qualquer fronteira de país, muito menos dariam autorização por escrito para que conseguíssemos uma CARTA VERDE. Carta Verde é uma exigência de Argentina e Paraguai para que veículos de outros países possam trafegar em seus solos. Esta tal carta se consegue nas ruas de Cidade do Leste, Paraguai, em branco, por apenas R$ 10,00, nas mãos de falsários que vendem ao lado de policiais e outras pessoas do Governo. Através deste documento, o real dono do carro, autoriza um condutor a dirigi-lo por estes países e serve também, em tese, como uma apólice de seguro internacional. A locadora possui preços atrativos, mas seu pessoal não é de confiança. Nunca cumprem o que promete e até a data de hoje, me deve a nota fiscal pelo período de locação.

Entramos na BR 277 que estranhamente possui fiscalização federal e estadual, parte feita pela PRF e outros trechos, feitos pela Polícia Militar do Paraná. A estrada é muito boa, com trechos sinuosos e perigosos. Muitas curvas perigosas, longos declives e caríssimos pedágios. De Curitiba a Foz do Iguaçu são nove pedágios e um custo extra na viagem de R$ 53,10. Quem pretender viajar para estes lugares, leve dinheiro em espécie pois nenhum pedágio possui caixa eletrônico próximo, muito menos aceitam cheques ou cartões.

Há três quilômetros de Foz do Iguaçu, apanha-se a BR 469 que acaba na fronteira da Argentina, passando por um posto da PRF que jamais se vê um policial fiscalizando e uma edificação nova, porém não usada, que chamamos de fronteira brasileira. De fato existem os serviços essenciais como Aduana (Receita Federal), Imigração (Polícia Federal) e fiscalização de veículos (Polícia Rodoviária Federal), mas na prática a sensação que temos é que não há ninguém. Salvo alguns poucos carros estacionados, a fronteira brasileira mais parece um ponto fantasma.

Adiante se avista a Ponte Tancredo Neves que divide nosso país da Argentina e logo ao ultrapassarmos a fronteira, avistamos o shopping internacional sem impostos. Um paraíso de compras baratas e de excelente qualidade, sempre adicionado aos sorrisos e presteza dos argentinos que trabalham no local.

Em seguida, chega à hora de nos identificarmos perante as autoridades argentinas. O controle de fronteira é rigoroso e se o visitante não tiver possuindo a carteira de identidade ou passaporte, ele é gentilmente convidado a voltar. Os argentinos não aceitam certidões de nascimento, CNH, CTPS, carteiras de conselhos como OAB, carteira de polícia ou qualquer outro tipo de tranqueira emitido pelo Brasil. Se você estiver com seu passaporte, receberá um visto de 90 dias de permanência e toda vez que tiver que voltar, receberá o carimbo de saída. É bom lembrar que de carro e sem a tal de Carta Verde, você só poderá dirigir até o aeroporto internacional de Puerto Iguzú, passando pelas Cataratas no lado argentino, distante 30 km da cidade. Após aquele ponto, se a polícia fizer alguma fiscalização, seu veículo poderá ser apreendido ou na melhor das hipóteses, ser conduzido até a fronteira.

Logo após a fronteira argentina, militarizada e sempre com dezenas de autoridades de fiscalização, desde a fiscalização de animais, alimentos e fazendária, até drogas e armas, você estará em Puerto Iguazú, uma cidade que muito lembra os filmes antigos mexicanos, com casas ou em madeira ou com tijolos a vista e poucas pessoas nas ruas. A cidade de pouco mais de 30 mil habitantes sobrevive basicamente do turismo e possui vários hotéis para todos os gostos e gastos e restaurantes, literalmente, um em cada quadra do centro, que servem peixes e carnes nobres com cortes perfeitos a preços inacreditáveis.

Puerto Iguazú ou Porto Iguaçu em português, está as margens da Ruta 12 e seu povo é amável, de confiança e recebem diariamente cerca de 1000 pessoas que a procuram para visitar as Cataratas do Iguaçu ou para partirem dali para Buenos Aires, distante 1200 km.

Uma das características forte e marcante desta cidade, são as poucas e raras lojas abertas, mas que possuem fachada de madeira e vidro e que raramente estão de portas abertas como de costume no Brasil. Outra situação comum nesta cidade é que o comércio também raramente aceita cartões de crédito, mas aceitam várias outras moedas além da sua. Existem muitos postos de combustíveis que atendem principalmente os brasileiros (a gasolina na Argentina custa o equivalente a R$ 1,20 o litro e é pura), nenhum supermercado grande, muitas farmácias, dois cassinos, muitas lojas de internet, dois bancos, um hospital velho com muitas ambulâncias e um forte esquema militar que a protege, mas a polícia é escassa e dizem os munícipes com os quais conversei, que são ineficientes.

A Argentina passará por eleições gerais em breve e Iguazú tem hoje mais de 80 candidatos a prefeito, que eles chamam de Intendente Municipal.

Dormir em Puerto Iguazú não requer tanta habilidade ou muita procura. Nos mais de 50 estabelecimentos hoteleiros, podemos escolher entre as hosterías (pousadas), que são mais baratas e custam em média R$ 40,00 a diária por casal; os hotéis com classificação de estrelas (quem nem de perto lembra os brasileiros), cobram em média R$ 75,00 por diária para casal com café da manhã e os grandes hotéis de luxo que chegam a cobrar algo em torno de R$ 800,00 a diária para casal. Ainda existem camping e albergues. Os hotéis, salvo os de luxo, não possuem restaurantes e todos, até as pousadas mais simples, possuem piscina.

Quem dorme em Puerto Iguazú também não tem muita dificuldade com o idioma. Todos os moradores falam um pouco de português e mesmo aqueles que não falam claramente, entendem o que dizemos, portanto, não é aconselhado fazer gracinhas, até mesmo por uma questão de educação e respeito. Eles amam futebol e só partem para a provocação se forem provocados primeiro, daí outro conselho: jamais fale em futebol se não quiser arrumar uma boa confusão, a não ser se você torce pela Seleção Argentina ou para o Boca Juniores. Os argentinos de Iguazú são sempre muito amáveis e atenciosos com todos os brasileiros.

O visitante pode passear pelas ruas da cidade até a madrugada sem o menor problema. De todas as vezes que fiquei lá, jamais notei um roubo ou furto e os carros permanecem nas ruas sempre, dando a impressão de que eles não usam suas garagens. Por falar em carros, também é comum ver pelas ruas de Puerto Iguazú, velhos Peugeot e Renault da década de 60 e 70 trafegando. Motos de pequeno porte com pilotos sem capacetes e crianças na garupa, também são muito comuns e não se assuste se algum motorista cruzar na sua frente derrepente. Os argentinos dirigem muito devagar pelas rodovias e muito mal nas cidades.

Eu conversei com uma espécie de delegado e ele me disse que nos últimos anos o único homicídio registrado teve um argentino vitimado por um brasileiro de Foz do Iguaçu e são raríssimos os casos de prisões, a não ser por badernarem ou distúrbios sociais de menor potencial.

O Real é mais forte perante o Peso argentino, mas se não tivermos Pesos no bolso eles aceitam o nosso dinheiro na proporção de um por um, o que nos faz perder quase a metade, portanto, quando cruzar a fronteira, troque Reais por Pesos na casa de câmbio e faça uma viagem ainda mais barata. Se algum estabelecimento aceitar cartão de crédito, prefira pagar desta forma pois na conversão de Peso para Dólar, pode-se lucrar um pouco mais, uma vez que o Real está também forte perante a moeda estadunidense.

Na cidade existe uma sede do Consulado Brasileiro que resolve apenas as questões de conflitos internacionais e preservação dos direitos do cidadão brasileiro, portanto, se precisar, busque-o imediatamente. A casa onde está o consulado do Brasil é território brasileiro na Argentina.

Uma outra curiosidade desta cidade é que NÃO HÁ PROSTÍBULOS e a única casa noturna, chamada Cuba Libre, é uma espécie de discoteca brasileira dos anos 70, que toca Cumbia, uma dança argentina, o tempo inteiro. Os bares fecham por volta da meia noite e depois disso, poucos lugares vendem alguma coisa. Eu tive um problema de picada de inseto e procurei a farmácia de plantão, mas ela estava fechada às 11 horas da noite.

É em Puerto Iguazú que fica o marco argentino que simboliza o famoso Marco das Três Fronteiras. No local, histórico pelas lutas e conquistas, existe lojas que vendem de tudo, inclusive pedras preciosas e muito artesanato indígena a base de argila, madeira e couro.

Não exceda nas compras tentadoras pois na volta pra casa, seja de carro, ônibus ou avião, o Brasil só permite uma quota de R$ 300,00 por pessoa e a fiscalização é rigorosa, principalmente para a coação do tráfico de drogas e armas oriundas do Paraguai. Antes de sair comprando tudo, pergunte o que pode e a quantidade permitida. As bebidas alcoólicas, cigarros e os eletrônicos são os que mais oferecem vantagens.

Algumas dicas:

ONDE DORMIR

Hotel Alexander **** – Av. Córdoba, 222 – Vizinho ao Consulado Brasileiro.

O hotel possui apartamentos razoáveis sem luxo, mas com TV a cabo, telefone, sanitário privativo e ar condicionado. Um bom café da manhã, lavanderia e uma piscina enorme. Garagem privativa e o preço incrível de +- R$ 70,00 a diária por casal. Aceita todos os cartões de crédito. Telefone: +54 (3757) 420.249

ONDE COMER

El Quincho del Tio Querido – Um restaurante típico de comidas argentinas, especialista em churrasco com cortes perfeitos. A especialidade da casa é o Bife de Chorizo que dá perfeitamente para uma pessoa e custa +- R$ 15,00 (sem acompanhamentos). As noites são animadas por um grupo de músicas latinas. Aceita todos os cartões de crédito. Quando chegar no El Quincho, procure pelo garçom CHICO.

ONDE COMPRAR

Dutty Free – O shopping internacional que fica antes da fronteira oficial. O lugar é uma ilha da fantasia e conta com estacionamento amplo, carrinhos elétricos para traslados entre o estacionamento e o shopping e um Caffé no centro que serve desde petiscos até champanha de boa qualidade e muito vinho argentino. Aceita todos os cartões de crédito.

O QUE FAZER DURANTE O DIA

Conhecer as Cataratas argentinas é a primeira obrigação de quem visita Puerto Iguazú. Fazer compras também se torna um atrativo e com um dia apenas, o turista pode conhecer o Marco Argentino das três fronteiras e o entorno histórico da cidade que conta com edificações e obras de arte a céu aberto. Ainda você pode conhecer um orquidário ornamental feito pelo Índio Solitário. Vale a pena conhecer a “feirinha” da cidade e comer na Barraca do Valdemar. Na feirinha existem dezenas de barracas que vendem vinhos com bom preço, azeitonas, azeites e outras iguarias. O Valdemar serve churrasco livre (rodízio) em pratos de madeira e cobra muito pouco por isso.

O QUE FAZER A NOITE

Além do Cuba Libre, que é uma boate para jovens, a cidade proporciona ao visitante alguns bares sem música ao vivo, mas com uma decoração muito diferente das vistas aqui. Puerto Iguazú não é uma cidade de baladas, portanto, as noites costumam ser simples e tranqüila.

QUEM LEVA

A cidade possui aeroporto, mas para nós, brasileiros, as únicas alternativas são os vôos até Foz do Iguaçu com a TAM e GOL, e os ônibus são das empresas Kaiowa (Itapemirim) e Gontijo (São Geraldo), que possuem linhas regulares.

Eu viajei com tudo preparado pela LTA Viagens (31) 3223.6428 com Berenice Campolina.

Boa viagem e até a próxima crônica sobre FOZ DO IGUAÇU, na próxima semana.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

www.irregular.com.br