REPENTINAMENTE VIVO

Ando alegremente bobo. Riso solto. Devo estar entediante com estes ares primaveris que não combinam com um rosto maduro, razoavelmente sulcado pela talhadeira do tempo.

Tem gente nova em meus domínios. Calor humano recente. Novo afeto. Venho sentindo esse desejo estranho de contar para todo o mundo que estou tão bem. Mesmo sob o risco de minha felicidade ofender gente amarga, gente que vive advertindo sobre os efeitos colaterais do estar bem... Mandando ter cuidado com a felicidade. Avisando que nesse “angu” só pode haver “caroço”.

Vou me deixando envolver. Comendo a felicidade com o doce angu perdido pelos que azedam na sisudez do “quem avisa amigo é”. Abro meu coração para a essência deste sentimento e fecho as portas do senso comum para o temor do que será. Quero me perder enquanto posso, na profusão dos sentidos e sentimentos, com todos os riscos inerentes aos grandes desafios da vida.

Estou apatetado. Apaixonadamente apatetado. Insuportável, suponho, nesta plástica inevitável que o sonho faz na expressão. No farol dos olhos. As contrações do semblante.

Vida nova se assanha. Nela o céu que a verdade oculta. Quero tudo que se apresenta, pois sei que na mini-saia da vida não cabem muitos momentos como este. Levanto-a, sugo a fonte, adentro as primícias. O depois responderá por nós e pela tabela de preços que agora não dá para ver, porque tenho pressa de estar feliz por completo, até que o pra sempre volte a mostrar que não é pra sempre. Nem completo.

Vivo. É assim que me sinto, e julgava já percorrer o fim. Repentinamente vivo, depois da sensação de jazer para tudo que elevasse meu brio, minha alma e minha estima.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 10/10/2007
Código do texto: T688911
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