ARRUMANDO A CASA DOS OUTROS

O mundo está sempre ameaçado pela guerra. E com certeza, já há brasileiros querendo ir para o Front. Isso me lembra uma história do meu tempo de faculdade, Nacional de Direito, no Largo do CACO, década de 80, com a turma do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, que passava os tempos de aula tocando violão, jogando sinuca e conversa fora. Para não fugir às tradições, eram todos do Partido Comunista e adoravam uma panfletagem e uma greve. Na época das eleições para a diretoria do Centro Acadêmico, era uma verdadeira batalha. Falavam tanto da democracia no País, mas, faziam exatamente o mesmo, querendo nos "obrigar" a votar. Eles se inspiravam nos anos 60, e querendo mostrar-se politizados defendiam os mais incríveis "planos de governo". Lembro-me que ocorreu na época da Guerra das Malvinas e uma das plataformas, tinha como lema principal o seguinte: "Malvinas são Argentinas!". Eu achava graça, pois eles não tinham competência para resolver os problemas da Faculdade que estava com o prédio em ruínas, um elevador que era considerado tentativa de suicídio, principalmente para os claustrófobos, e a comida do bandejão cheirava como a das penitenciárias que visitávamos com o professor de Direito Penal - "Tenho trauma de repolho até hoje". Até que um dia, ao chegar para a aula, deparei-me com o carro do Corpo de Bombeiros estacionado na porta da faculdade e uma poeirada vinda lá de dentro. Não havia cheiro de queimado. O prédio não estava em chamas, mas, o banheiro do 3o andar, que era dos funcionários da secretaria, havia desabado e jazia dentro do banheiro do 2o andar, que era o da biblioteca. Por Deus, não houvera vítimas, pois, aconteceu justamente no intervalo entre as turmas da manhã e da tarde, e era horário de almoço dos funcionários. Foi um prato cheio. Veio a imprensa, o diretor desesperado, a faculdade interditada, e o que fêz o CACO? Acho que nem tomou conhecimento, pois estavam lutando pelas Malvinas "Argentinas".

Essa é também, hoje, a nossa realidade, gostamos de arrumar a casa dos outros, enquanto a nossa vira uma bagunça. O povo é pacífico, mas, se a 3a Guerra Mundial vier (que Deus nos livre) iremos lutar em um longínqüo campo de batalha por uma guerra que jamais será nossa.

E a nossa casa como fica? Continua desarrumada, afinal, os que lutaram bravamente, no meu período de Faculdade, dentro de um Centro Acadêmico pela Guerra das Malvinas, são hoje, os políticos que não conseguem fazer absolutamente nada para consertar um prédio, antes que ele desabe, e desta vez, sobre nossas cabeças.