QUATRO OLHARES SOBRE A CIDADE

SÃO PAULO É ASSIM:

São Paulo é sim para tanta gente que aqui aporta e encontra a porta aberta, com sua mala e filhos, e aqui planta seu futuro, dá duro, vive duro, mas tem na Cidade porto seguro.

Faz sua vida sua lida e não sai mais. Como se fosse imã a ela se prende e fica, fisgado na linha de produção. Tanta gente fixada nas suas costas, encostas e baixadas, prédios e favelas, vielas, becos e poucos nos jardins e coberturas, nas alturas.

É assim: aqui se consolida o País, e a cidade cresce para o alto e para os lados, periferia laje sobre laje, lojas sobre lojas, grifes e josé paulino/ brás/ brasilândia e morumbi. São Paulo é aqui, é assim: mistura e diferença, elitismo e miséria.

Mas é sim para tanta gente, do norte, do sul, todo dia 24 horas na tomada, é um país dentro do Brasil, que se mexe, não descansa, não se cansa. Abriga. É uma comunidade que não pode dar errado ou tudo vai para o buraco.

Aqui se fabrica indiferenças, diferenças, é feita de muitas crenças e ceticismos, mas que combate as idiossincrasias com alegria e irreverência, os diferentes com mistura. Atura todos os nuances, mescla de negro todas as peles, reanima o ânimo nacional, ensina tolerância ao mundo.

É certo que a vida é cruel, periferia, ferida que se alastra mas também obriga saídas, todo dia tem que criar novas possibilidades. Sobrevivência é a palavra de ordem, aprendizado rápido, para ontem. É assim. É sim.

(Célio Pires, um obcecado pela decifração

dos signos de Sampa)

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SAMPA É ISSO: SOMOS NÓS

Sampa é isso. Somos nós. Freguesia e Anália, burguesia e bandalha. Sampa é a força motriz desse país por mais que outros resolvam dizer que não. Aqui caminham nordestinos e o diabo, japoneses loiros e mouros, escravos antigos e demônios amigos. Por aqui caminhamos nós. Seja no centro ou nos guetos. Seja no rock pesado ou no churrasquinho da esquina. Esteja ou não a puta na zona, o moleque na esquina. Aqui vivemos e estamos antenados e prontos. Somos Brasil, como alguém já disse um dia. Periferia.

(Najah DL, poeta, publicado, VER BLOG:

www.recantodasletras.com.br - 04/10/2007)

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NÃO ADIANTA COLOCAR CADEADO

Nasci em São Paulo, me sinto confortável aqui, com seus problemas. É a cidade do trabalho, da pressa, mas escolhemos estar aqui. A segurança está ruim? Não adianta colocar cadeados em tudo, vamos exigir segurança! A vida monástica não se resume a ficar rezando no cantinho. Meditar exige grande força de vontade para controlar o turbilhão de nossa mente. Contemplamos, assim, a realidade.

(Monja Coen, ou Cláudia Dias

Batista de Souza, zen budista)

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ONDE VIEMOS AMARRAR NOSSO BURRO

Nós não somos alegres como os cariocas ou os baianos. Nosso humor vem sempre carregado de uma dose de auto-ironia e melancolia. São Paulo é uma cidade toda torta: bonita porque feia, moderna e provinciana, inóspita e acolhedora. Nós paulistanos, somos todos retirantes-moradores do deserto-fabulistas-tocadores de gado-homens de negócios – aflitos, perguntando onde viemos amarrar nosso burro.

(Noemi Jaffe, jornalista, comentando o disco "Pra Marte",

de Maurício Pereira, que é carregado de paulistanidade - Folha de São Paulo, 29/09/07,)