308 - RETALHOS DO TEMPO...

A brisa noturna espalha os odores da Dama da Noite e o perfume atrai também olhares sobre o esplendor da alamanda com suas lindas flores cor de ouro esparramadas sobre suas as folhas verdes/lustrosas. Linda imagem.
A beleza da alamanda encobre a feiura da cerca de navalhas metálicas estendida em espiral sobre o muro protetor, em estranha sintonia entre o belo e o feio. Alamanda no apogeu da floração.
O momento de apreciação do entorno deixa-me extasiado com a singeleza das coisas, mas, não abstrai a percepção dos outros ruídos que se abrigam na minha alma. Cigarras estridentes no seu último cantar faz coro com a Sabiá laranjeira no seu canto dolente ali no coqueiral, pedindo aos céus:
- Piedade Senhor;
- Manda chuva Senhor,
- Piedade Senhor.
Chamando a chuva que não vem!!
O barulho do motor de um helicóptero, em resgate talvez, rasga o silêncio desta morna noite de início de primavera como se fosse uma fina adaga afiada cortando o véu da noite, como disse o poeta árabe na sua consolação, e velozmente se perde em direção à capital dos mineiros.
Ao longe no quase extremo deste pedaço de rua abarrotada de carros em ambos lados, são os fiéis na Igreja Maranata. O Coral canta a pleno pulmões linda canção gospel, como uma saudação à criação divina. “Ode a Jesus o Nazareno”. (Se não for amor).
À minha frente este cenário se desnuda sem nenhum pudor ou preconceito para o observador. Vejo a cumeeira da casa vizinha, bem defronte, que abriga como local de transição aves que ali fizeram seus ninhos.
Na Avenida Ipiranga uma moto destas bem barulhentas tenta superar a todos os sons. São melancólicos Retalhos do Tempo que em vão tento aprisionar...
Setembro - 2014.

 
CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 15/05/2020
Reeditado em 18/05/2020
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