Meu quintal anárquico

Passei toda minha infância no interior. Minha casa tinha um quintal com um espaço amplo, quero dizer, amplo o suficiente para instalar o meu espaço anárquico. Não tenho irmãos e desde pequeno brincava com seres imaginários que me acompanhavam sempre nas minhas aventuras pelo desconhecido. Sempre fui uma pessoa que brigava muito com minha indecisão. Toda vez que assistia aos filmes, já queria me transformar naquele personagem principal. Assistia ao filme do Superman, já colocava uma toalha de mesa no meu pescoço e queria voar; assistia ao Zorro e logo colocava uma máscara e com um pedaço de madeira na mão, representava minha espada, galopando num cabo de vassoura e gritando “Aiôôô Silver”. Para meus vizinhos, eu era o “Tonto” amigo inseparável do Zorro rsrsrs. Gostava da maioria dos super-heróis que assistia e logo já faziam parte do meu quintal anárquico. Eu não me contentava com um espaço só não! Tinha vários espaços. Um dos espaços que eu mais gostava era uma casa de entulhos em cima de uma goiabeira na casa de minha avó. Ali junto com outros guerreiros (meus primos), defendíamos como se estivéssemos num grande castelo medieval e nossas armas eram goiabas podres. E ali brigávamos pelos espaços anárquicos do outro. Era uma batalha sem fim! Lembro também de um corredor ao lado de casa, onde eram armazenadas algumas pilhas de tijolos e de telhas francesas. Ali sim era um local ultra super secreto. Lembro-me dos galhos das folhas de um pé de mamão que serviam como cigarro para dar charme ao grande chefão da máfia no seu esconderijo e, quando enjoava da brincadeira, esses mesmos galhos já se transformavam em canudos para fazer grandes bolhas de sabão, onde na minha imaginação se transformavam em naves espaciais invadindo a terra. Atualmente vários desses espaços já se perderam, ou melhor, mudaram de lugar. Hoje eles estão bem guardados em forma de belas recordações dentro do meu coração.

Agora vizinho próximo do meu maior espaço anárquico: meus sonhos.